19/03/2012

A guerra e o desabastecimento como terápia de choque

Héctor Rodríguez Vidal. O autor é licenciado em filologia clássica pola USC, máster de professorado e integrante do tecido social viguês.



    Nom vou tentar (o tempo nom parece ajudar, mas o temor sobre a situaçom pode rebentar amanhám à primeira hora ou cinco anos para a frente) fazer relatório pormenorizado dos factos, nem me sinto capaz nem sei se faz grande diferença para o que é que quero dizer. Som apenas mais umha mana preocupada pola situaçom de crise e o modo em que os principais actores económicos e políticos (sem merecer, chegados a certo nível, grandes explicaçons para nom confundir ambos os grupos, confundem-se porque é que som confusos os limites entre eles) estám a gerir as diferentes situaçons que daquela se seguem.

Antes de mais devo dizer que esta crise, se bem que nom se sabia o momento exacto em que ia vir, provavelmente fora esperada, e boa parte do que se esteja a fazer hogano responda a umha ampla planificaçom: quando nos anos setentas se libertou o dólar de qualquer padrom de cámbio minimamente estável, sabia-se necessariamente que se abriam as portas à especulaçom financeira que hoje sofremos e desde os oitentas, no mínimo, se leva a tratar a questom do fim do petróleo e as suas consequências. Se for assim as diferentes medidas improvisadas seriam locais mais do que globais, e eis umha característica fundamental das grandes políticas económicas de austeridade e reduçom do gasto público, a impotência do estado nacional (instáncia local) defronte às grandes estruturas burocráticas supranacionais (como o FMI) embora todo gire arredor do estado-naçom conhecido como EE.UU. Bom, isto parece complexo demais para levar bom rumo, mas se tomamos em conta os conceitos de decadência da hegemonia estadunidense e a emergência dum mundo multipolar, podemos imaginar dentro do possível que seja tempo de crise para o estado-naçom e que as dualidades entre entidades estatais muito fortes (EE.UU., Alemanha se calhar...) que seguem contodo a ser importantes e entidades supraestatais nom sejam senom sintomas da profunda crise na estrutura política. Acho que as esquerdas de toda a parte deveriam dedicar alguns instantes a pensar no modo em que isto deveria alterar a sua praxe, quais focagens serám as que permitam acçons estratégicas que poidam levar algum dia a acabar com este jogo de psicopatas, mesmo até que ponto se deveriam importar da representaçom parlamentar para chegar a ser, a cada dia com maior certeza, marionetes de outrem.

Após estas palavras desordenadas, com esperança de que fagam qualquer sentido, vou acabar por dizer como é que me parece possível ligar estas circunstáncias que vivemos (dando a exposiçom prévia por boa, mas lá é que tem de agir a crítica do leitor se o houver) co perigo de guerra em Próximo e Médio Oriente: há dous pontos centrais nisto que nom se ham-de esquecer para evitar confusons, o fim da era do petróleo e a competência salarial do mundo inteiro ao modo do sudeste asiático.

Possivelmente os dous pontos sejam inconexos, mas parecem converger na estratégia que se nos debuxa pola frente: as energias alternativas venhem lá e nom há razom incontestável que diga que é indispensável o consumo das classes meias (fóssil da Guerra Fria) baseado (ainda sem alternativa possível) no petróleo para sustentar mais um bocado o hodierno sistema de produçom. Porém, é preciso as classes meias se tornarem baixas e irem as mesmas se esquecendo do petróleo e as comodidades a ele associadas para todo isto fazer sentido. A margem de ganho que o petróleo produziu por décadas quiçá poida (re)produzí-la a antiga classe meia já no fundo da pirámide a competir à maneira chinesa, polos salários mais baixos e a sobrevivência mais crua: se isto for a sério, o mundo poderia se tornar no meio prazo num campo de concentraçom em que o accesso à energia estiver muito fortemente limitado para favorecer umha “recomendável” (para outrem) competitividade salarial. Lá é que pode ser interessante considerar un futuro conflito armado em Oriente Próximo como o primeiro passo na caminhada para este mundo possível, pois entrar em guerra a OTAN inteira ou parte dela naquela zona após as primaveras árabes (com quanta instabilidade social há nos países envolvidos em processos revolucionários recentes) pode fazer que a grande maioria dos países da regiom deixe de exportar o seu ouro fóssil, criando em Occidente o laboratório perfeito para reproduzir as condiçons que já adiantei.

Para além do mais escrevo estas linhas um dia em que se começou a ouvir pola rádio que o conflito em Síria estava a militarizar a fronteira com Turquia, e, bom, o quê é que tenhem em comum Síria, Turquia e Irám (grande ameaça ainda hoje à hegemonia estadunidense na regiom)? Entre mais um milheiro de cousas umha regiom arraiana entre eles com vontade de soberania, em que nom falta o petróleo, sem dúvida: o Curdistám. Síria está a arder, e se Curdistám e a questom da sua independência se aquecer um bocadinho podem arder Turquia e Irám ou ser forçados a militarizar a sua relaçons exteriores, para arder a regiom inteira e levar-nos, de passagem, ao caos energético; umha situaçom em que, por muito que queiramos, nom poderemos reagir com força escontra a austeridade e o regueiro de morte que ameaça com deixar atrás de si... ou sim?

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