16/01/2012

Andreu Nin e a XIII AN do BNG 1892-2012

Antom Fente Parada.

"A irrealidade política do PCE-PSUC, a sua inconsistência analítica, salta já a vista de tal maneira que a base operária do partido, pese a estar insuficientemente provista de elementos de juízo, pude superar as inibições da disciplina e a reverência aos chefes.
[...] O V Congresso do PSUC não foi um jogo de cartas marcadas, como o são tantos congressos de tantos partidos e organizações; (...) ruptura da lei das burocracias que é o V Congresso do PSUC.
(...) A reacção contra contra (...) a minoria derrotada. Esta expressa-se com uma prepotência despectiva que revela a consciência de superioridade do especialista na técnica e poder sobre o rebanho de comuns mortais chamados a obedecer aos que sabem e podem. Não há nenhuma dúvida de que essa consciência está bem fundada se se aceita a hierarquia de valores desta sociedade.
 A divisão de classe dentro das mesmas organizações política não desapareceu pelo facto de que a cultura dominante as ignore ou as declare caducas.", Manuel Sacristán: El País, 22-1-81.
Recebi nestes dias vários convites a pronunciar-me sobre a XIII AN do BNG. Porém, com franqueza, não me sinto em condições de fazê-lo, porque pouco mais teria que engadir que o já expus no seu momento, não apenas com vontade de crítica, mas também de catarse para o próprio Encontro Irmandinho.

Não é preciso dizer que, naquela altura, resultamos derrotados os que já não queríamos aguardar mais no EI, felizmente porque abriu-se um período que dá agora a esta XIII AN do BNG em que a postura do EI acumulou mais força do que nunca amadurecendo mais e melhores condiçoes para o refenrete político que a esquerda galega precisa. O mandato da III AN do EI foi dar a derradeira batalha pela regeneração orgânica e a refundação político-ideológica No entanto, e aproveitando que nestes dias voltei sobre alguns textos lidos no passado ano, partilho com vós esta deslabaçada - e provavelmente inservível- zaragalhada. 

Cumprem-se neste 2012 120 anos do nascimento de Andreu Nin (1892-1937), sem dúvida uma das figuras mais relevantes da esquerda revolucionária da Península Ibérica, que propugnava, entre outras muitas cousas, o Frente Único entre o POUM, a CNT e a FAI, a hegemonia da classe trabalhadora, os comités de fábrica, ou a União Ibérica de Repúblicas Socialistas (apenas por citar alguns exemplos). O mais reconhecido entre os dirigentes do POUM é quiçá uma das vozes mais esquecidas na esquerda hoje e, para alguns torna-se por múltiplos motivos necessário recuperar o seu exemplo e a sua achega para a esquerda revolucionária (que é a única esquerda real já que em maior ou menor medida tenta mudar o estado de cousas e não apenas reforma-lo).

Sobre a hegemonia da classe operária diz Nin o seguinte:
a conquista do poder pelo proletariado significa a hegemonia absoluta da classe trabalhadora a fim de esganar implacavelmente toda tentativa contra-revolucionária e esmagar a burguesia. Esta hegemonia da classe não pode identificar-se em nenhum caso com a ditadura dum partido, mas pressupõe a mais ampla democracia operária, o direito de crítica mais absoluto para todos os sectores proletários, a participação de todos na obra comum. Apenas as classes exploradas ficam privadas de tudo direito político. Quando as classes tenham desaparecido completamente, os órgaos de coacção resultaram supérfluos e desaparecerá o Estado
Estas palavras pertencem ao projecto de tese política elaborado por Nin para sometela ao Congresso Nacional do POUM, o 19 de junho de 1937, mas que não pude reunir-se devido a repressão que  sofreu o próprio Nin e mais o POUM, especialmente por parte do estalinismo, do PSUC e do PCE, e que logo se espalharia sobre a CNT. Precisamente a CNT e o POUM demonstraram que outra esquerda revolucionária e radical era possível além do periclitado estalinismo que se espalhara desde Moscova. Nin venceu, já que logo, a ortodoxia e a teologia estalinista que fossilizara a esquerda revolucionária desde fora e não desde dentro. Venceu através do tempo. Desde uma formação que custara muito erguer naquele contexto mais que indicou todo o seu potencial uma e outra vez e que está, dalguma maneira, na génese das grandes coligações que em América do Sul se erguem contra o ultraliberalismo juntando partes duma esquerda plural (porém que previamente viveram duros confrontos e cisões). 

Os burocratas e funcionários de partido que atestavam os PC de toda a parte foram os que mataram a Nin e os que, ainda pior, mataram toda aspiração revolucionária defendendo o Governo burguês de 1936. Foram os que, como em China, Alemanha e tantos outros locais serviram para esmagar os operários mais consciencializados e os que permitiram a vitória do fascismo. Jean Machajski observou que a intelligentsia rematava por implantar um aparelho administrativo que suprimia os interesses da classe operária, todavia se se dava uma revolução socialista levaria ao poder uma elite de classe média. Robert Michels referiu que os funcionários do partido tinham interesse na manutenção do status quo político alemão. Perderiam os seus confortáveis rendimentos se o partido fosse suprimido. Na qualidade de negociadores com os patrões e o governo jogavam um papel muito destacado e apresentavam uma acumulação de resultados positivos que lhes permitiam terem deputados no Reichstag e ser porta-vozes de toda uma classe. Porém o que Michels afinal vinha sugerir era que o Partido Social-Democrata Alemão era dirigido pelo seu "aparelho" e em função dos interesses desse mesmo aparelho. 

Semelha, pois, que por vezes é necessário retroceder um bocado, ou até fragmentar-se, para reconstruir a esquerda e lançar com sucesso a acumulação de forças que permita a transformação real da sociedade. O 11 de junho de 1937, cinco dias antes da sua detenção, exprimia em catalão, no começo do artigo "Quem vai contra os camponeses?", as que foram provavelmente das suas últimas palavras:
Muito poucas vezes os estalinistas nos combatem no terreno político. Já que sabem perfeitamente que neste terreno toca-lhes sempre perder, preferem recorrer habitualmente à calúnia, à injúria e a difamação; e devemos fazer-lhes justiça ao reconhecer que neste aspecto som muito superiores a nós, já que nós seguimos sendo devotos desta moral revolucionária que constituiu a norma da nossa geração e que aguardamos restabelecer em toda a sua integridade no movimento operário.  

Fora a atmosfera contaminada pola cobiza dun efémero poder. Fora a intoxicación do veleno inoculado dende tempo atrás en relacións que deberan ser fraternas. Fora a indignación represada día tras día e máis ao longo de toda a xornada, a impotencia fronte ao roubo das nosas propias mensaxes para prostituílas, o noxo perante a treizoeira conduta hipócrita dalgúns pretensos compañeiros pretensamente copartícipes de proxectos e morada na casa común.
 [...] Retorna o sono. Vólvome deitar. Recobrei o sosego. Os menestrais de onte fican no lamazal político dos miserábeis -coas miñocas e os insectos. Os bois de tiro xa non pasan por alí. Os menestrais -mosquitos todos, moscas verdes e tabaos- morrerán de inanición. Confinados no illó.
 Por isso é que não queria escrever sobre a AN do BNG, porque levo a "deslealdade" no ADN. Sede indulgentes.


2 comentários:

Sr. J disse...

Excelente texto, parabéns.

AFP disse...

Obrigado irmão.