31/10/2011

Viver entre os 1%, por Michael Moore

Michael Moore. Artigo tirado do Esquerda.net (aqui).

Amigos,

Há 22 anos, que se completam nesta terça-feira, estava com um grupo de operários, estudantes e desempregados no centro da cidade onde nasci, Flint, Michigan, para anunciar que o estúdio Warner Bros, de Hollywood, comprara os direitos de distribuição do meu primeiro filme, “Roger & Me”. Um jornalista perguntou: “Por quanto vendeu?”

“Três milhões de dólares” – respondi com orgulho. Houve um grito de admiração, do pessoal dos sindicatos que me cercava. Nunca acontecera, nunca, que alguém da classe trabalhadora de Flint (ou de lugar algum) tivesse recebido tanto dinheiro, a menos que um dos nossos roubasse um banco ou, por sorte, ganhasse o grande prémio da lotaria de Michigan. Naquele dia ensolarado de Novembro de 1989, foi como se eu tivesse ganho o grande prémio da lotaria – e o pessoal com quem eu vivia e lutava em Michigan ficou eufórico com o meu sucesso. Foi como se um de nós, finalmente, tivesse conseguido, tivesse chegado lá, como se a sorte finalmente nos tivesse sorrido. O dia acabou em festa. Quando se é trabalhador, de família de trabalhadores, todos cuidam de todos, e quando um se dá bem, ou outros vibram de orgulho – não só pelo que conseguiu ter sucesso, mas porque, de algum modo, um de nós venceu, derrotou o sistema brutal contra todos, sem mercê, que comanda um jogo cujas regras são distorcidas contra nós.

Nós conhecíamos as regras, e as regras diziam que nós, ratos das fábricas da cidade, nunca conseguíamos fazer cinema, ou aparecer em entrevistas na televisão ou conseguíamos fazer-nos ouvir em palanque nacional. A nossa parte deveria ser ficar de bico calado, cabeça baixa, e voltar ao trabalho. E, como que por milagre, um de nós escapara dali, estava a ser ouvido e visto por milhões de pessoas e estava ‘cheio de massa’ – santa mãe de deus, preparem-se! Um palanque e muito dinheiro... agora, sim, é que os de cima vão ver!

Naquele momento, eu sobrevivia com o subsídio de desemprego, 98 dólares por semana. Saúde pública. O meu carro morrera em abril: sete meses sem carro. Os amigos convidavam-me para jantar e sempre pagavam a conta antes que chegasse à mesa, para me poupar ao vexame de não poder dividi-la.

E então, de repente, lá estava eu montado em três milhões de dólares. O que eu faria do dinheiro? Muitos rapazes de fato e gravata apareceram com montes de sugestões, e logo vi que, quem não tivesse forte sentido de responsabilidade social, seria facilmente arrastado pela via do “eu-eu” e muito rapidamente esqueceria a via do “nós-nós”.

Em 1989, então, tomei decisões fáceis:

1. Primeiro de tudo, pagar todos os meus impostos. Disse ao sujeito que fez a declaração de rendimentos, que não declarasse nenhuma dedução além da hipoteca; e que pagasse todos os impostos federais, estaduais e municipais. Com muita honra, paguei quase um milhão de dólares pelo privilégio de ser norte-americano, cidadão deste grande país.

2. Os 2 milhões que sobraram, decidi dividir pelo padrão que, uma vez, o cantor e activista Harry Chapin me ensinou, sobre como ele próprio vivia: “Um para mim, um para o companheiro”. Então, peguei metade do dinheiro – e criei uma fundação para distribuir o dinheiro.

3. O milhão que sobrou, foi usado assim: paguei todas as minhas dívidas, algumas que eu devia aos meus melhores amigos e vários parentes; comprei um frigorífico para os meus pais; criei fundos para pagar a universidade das sobrinhas e sobrinhos; ajudei a reconstruir uma igreja de negros destruída num incêndio, lá em Flint; distribuí mil perus no Dia de Ação de Graças; comprei equipamento de filmagem e mandei para o Vietname (a minha acção pessoal, para reparar parte do mal que fizemos àquele país, que nós destruímos); compro, todos os anos, 10 mil brinquedos, que dou a Toys for Tots no Natal; e comprei para mim uma moto Honda, fabricada nos EUA, e um apartamento hipotecado, em Nova York.

4. O que sobrou, depositei numa conta de poupança simples, que paga juros baixos. Tomei a decisão de jamais comprar acções. Nunca entendi o casino chamado Bolsa de Valores de Nova York, nem acredito em investir num sistema com o qual não concordo.

5. Sempre entendi que o conceito do dinheiro que gera dinheiro criara uma classe de gente gananciosa, preguiçosa, que nada produz além de miséria e medo para os pobres. Eles inventaram meios de comprar empresas menores, para imediatamente as fechar. Inventaram esquemas para jogar com as poupanças e reformas dos pobres, como se o dinheiro dos outros fosse dinheiro deles. Exigiram que as empresas sempre registassem lucros (o que as empresas só conseguiram porque despediram milhares de trabalhadores e acabaram com os serviços de saúde pública para os que ainda tinham empregos). Decidi que, se ia afinal ‘ganhar a vida’, teria de ganhá-la com o meu trabalho, o meu suor, as minhas ideias, a minha criatividade. Eu produziria produtos tangíveis, algo que pudesse ser partilhado com todos ou de que todos gostassem, como entretenimento, ou do qual pudessem aprender alguma coisa. O meu trabalho, sim, criaria empregos, bons empregos, com salários decentes e todos os benefícios de assistência médica.

Continuei a fazer filmes, a produzir séries de televisão e a escrever livros. Nunca iniciei um projecto pensando “quanto dinheiro posso ganhar com isso?”. Nunca deixei que o dinheiro fosse a força que me fizesse fazer qualquer coisa. Fiz, simplesmente, exactamente o que queria fazer. Essa atitude ajuda a manter honesto o meu trabalho – e, acho, ao mesmo tempo, que resultou em milhões de pessoas que compram bilhetes para assistir aos meus filmes, assistem aos programas que produzo e compram os meus livros.

E isso, precisamente, enlouqueceu a direita. Como é possível que alguém da esquerda tenha tanta audiência no ‘grande público’?! Não pode ser! Não era para acontecer (Noam Chomsky, infelizmente, não vai aparecer no Today View de hoje; e Howard Zinn, espantosamente, só chegou à lista dos mais vendidos do New York Times depois de morto). Assim opera a máquina dos média. Está regulada para que ninguém jamais ouça falar dos que, se pudessem, mudariam todo o sistema, para coisa muito melhor. Só liberais sem personalidade, que vivem de exigir cautela e concessões e reformas lentas, aparecem com os nomes impressos nas páginas de editoriais dos jornais ou nos programas da televisão aos domingos.

Eu, de algum modo, encontrei uma brecha na muralha e meti-me por ali. Sinto-me abençoado, podendo viver como vivo – e não ajo como se tudo fosse garantido para sempre. Acredito nas lições que aprendi numa escola católica: que se tens sucesso, maior é a tua responsabilidade por quem não tenha a mesma sorte. “Os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos.” Meio comunista, eu sei, mas a ideia é que a família humana existe para partilhar com justiça as riquezas da terra, para que os filhos de Deus passem por esta vida com menos sofrimento.

Dei-me bem – para autor de documentários, dei-me super bem. Isso, também, faz enlouquecer os conservadores. “Você está rico por causa do capitalismo!” – gritam. Hummm... Não. Não assistiram às aulas de Economia I? O capitalismo é um sistema, um esquema ‘pirâmide’ que explora a vasta maioria, para que uns poucos, no topo, enriqueçam cada vez mais. Ganhei o meu dinheiro à moda antiga, honestamente, fabricando produtos, coisas. Nuns anos, ganho uma montanha de dinheiro, noutros anos, como o ano passado, não tenho trabalho (nada de filme, nada de livro); então, ganho muito menos. “Como é que você diz que defende os pobres, se você é rico, exactamente o contrário de ser pobre?!” É o mesmo argumento de quem diz que, “Você nunca fez sexo com outro homem! Como pode ser a favor do casamento entre dois homens?!"

Penso como pensava aquele Congresso só de homens que votou a favor do voto para as mulheres, ou como os muitos brancos que foram às ruas, marchar com Martin Luther Ling, Jr. (E lá vem a direita, aos gritos, ao longo da história: “Hei! Você não é negro! Você nem foi linchado! Por que está a favor dos negros?!”). Essa desconexão impede que os Republicanos entendam por que alguém dá o próprio tempo ou o próprio dinheiro para ajudar quem tenha menos sorte. É coisa que o cérebro da direita não consegue processar. “Kanye West ganha milhões! O que está a fazer lá, em Occupy Wall Street?!”. Exactamente – lá está, exigindo que aumentem os impostos a ele mesmo. Isso, para a direita, é definição de loucura. Todo o resto do mundo somos muito gratos que gente como ele se tenha levantado, ainda que – e sobretudo porque – é gente que se levantou contra os seus interesses pessoais financeiros. É precisamente a atitude que a Bíblia, que aqueles conservadores tanto exaltam por aí, exige de todos os ricos.

Naquele dia distante, em Novembro de 1989, quando vendi o meu primeiro filme, um grande amigo meu disse o seguinte: “Eles cometeram um erro muito grave, ao entregar tanto dinheiro a um sujeito como tu. Essa massa fará de ti um homem perigosíssimo. É prova do acerto do velho dito popular: ‘Capitalista é o sujeito que te vende a corda para se enforcar a ele mesmo, se achar que, na venda, pode ganhar algum dinheiro.”

Atenciosamente,

Michael Moore

O Estado espanhol é o 4º mais desigual da UE

Antom Fente Parada.



A II Restauração bourbónica está rematando numa voragem que lembra as condições de conflituosidade social que levaram para a irrupção da ditadura de Primo de Rivera e a posterior queda da monarquia há por volta dum século. Na UE só estados abalados com selvagismo pelo ultraliberalismo após a queda da URSS em 1989 registam níveis semelhantes de disparidade entre ricos e pobres em função dos ingressos. Portanto, é urgente a defesa do estado do bem-estar, hoje mais do que nunca são essas conquistas sociais as que evitam uma autêntica explosão da pobreza, da miséria e uma mais que provável ascensão fulgurante do fascismo.

Continuam a tratar-nos coma a súbditos duns senhores feudais. A economia do Reino de Espanha entrou em recesso virtualmente, por muito que  os papagaios Rajoy e Rubalcaba falem de pronta recuperação o pior e mais doloroso da crise está por chegar porque estancou-se todo o sistema-mundo capitalista e porque China pode sofrer implosão se tem que aturar de todo o sistema. O seu 29 particular achega-se-lhe em 2012 e com ele o fim do capitalismo tal e como o conhecimos nos últimos 100 anos. Com o actual modelo é já impossível produzir riqueza e favorecer a acumulação espalhada de capital o que supõe a necessidade de recorrer a uma destruição criativa permanente que nenhuma sociedade pode aguentar a não ser em estado de shock e guerra, ou seja, que se impõe e o darwinismo social  e o estado penal.


A pobreza no Estado espanhol, aumenta pelo desemprego récorde recentemente anunciado, a descida continuada dos ordenados enquanto o IPC harmonizado inça em 3%, a redução das despesas sociais... Existem 1'4 milhões de fogares em que todos os membros da unidade familiar estão sem trabalho (um terço dos desempregados da zona euro mora no Estado espanhol segundo a última EPA são já 5.000.000) e 21'8% da população vive por baixo do limiar da pobreza. Os dados que publica El País são muito esclarecedores. O s80/20 coteja o 20% da população com maiores ingressos  com o 20% da população sem ingressos praticamente. Pois bem, os novos dados dão uma subida de 0'9% sem antecedente desde que existem registos. 

Por trás do Reino de Espanha nestes intres apenas topamos Letónia, Lituânia e a Roménia. Cada ano de "crise" os ricos são-o mais e os pobres fazem-se mais e mais necessitados. Segundo o jornal El País nunca desde que se recolhem os dados a disparidade fora tão elevada, com um coeficiente Gini de 33'9. Curiosamente ao lado do Estado espanhol no rátio 80/20 (6) está o português, por baixo Bulgária (5'9) e logo Grécia (5'8), Itália e o Reino Unido (5'2). A média da UE 27 situa-se em 4'9. Então, com a salvidade da Irlanda os estados intervidos pela troika ou em dificuldades vivem um aumento constante das desigualdades o que acentua que as medidas das ortodoxia ultraliberal nunca poderão reactivar a economia e fazer-nos sair da crise. Só servem para empobrecer-nos e ainda o farão mais quando após as eleições se recapitalize a banca "espanhola", se recebam novos e renovados ataques especulativos, se justifiquem recortes draconianos (que o PP não leva no seu programa) in nomine ZP e finalmente se lhe abra a porta ao FMI para fazer da sociedade espanhola a tábula rasa sonhada por Friedman e os ultraliberais como no Chile de Pinochet.

Todo isto quando diversos inquéritos dim que o PSOE perderá 53 escanos em 22 províncias e o PP em auge, também na Galiza ganhando escanos em todas as províncias agás Lugo.Ontem La Voz de Galicia dava pela sua banda a certeza de que o PP tira a maioria absoluta e para o BNG prognosticava 0'5% do voto, ou seja uma baixada a respeito do 0'8% actual.




Praza, un novo xornal. Un espazo no que atoparse

Marcos Pérez Pena. Artigo tirado de Altermundo (aquí).

Un grupo de persoas (entre elas, Manolo Barreiro, Filipe Diez e eu mesmo) levamos meses traballando no deseño dun novo xornal dixital.

Porque é necesario (cada vez máis) e porque é posible facelo. Porque hai milleiros de galegas e galegos que non teñen un medio de comunicación na rede no que confíen, que queren ler un xornal de calidade, en galego e que lles conte a parte da realidade que o resto das cabeceiras non lle está contando. Porque queren un espazo no que atoparse e debater. Un xornal dixital moderno, conectado co mundo e aproveitando todas as posibilidades da información en tempo real e multimedia, un xornal aberto e colaborativo, en permanente intercambio con outros medios galegos, cos lectores e coas organizacións sociais e os internautas. Aberto tamén no político, sen filiacións partidarias e apostando por unha axenda temática propia, distinta á dos medios convencionais. E moi preocupado polo traballo xornalístico, base de calquera medio de comunicación, tanto dos redactores coma dos colaboradores xornalistas, que en Praza serán (como debería ser obvio) retribuídos.

Podedes ver unha presentación do proxecto entrando na páxina prazapublica.com

Este non é o deseño definitivo (xa houbo algúns cambios dende entón), pero é para que vos fagades unha idea. Nas vindeiras semanas Praza Pública ("Praza") presentarase en toda Galicia, na procura de apoios. O xornal quere ser autosustentable, con publicidade, patrocinios e coas achegas dos lectores, que serán os propietarios reais de Praza. A información é cara, e ou ben a pagan os anunciantes, ou ben os lectores. E o que paga, manda.

Praza primará os temas a fondo, as reportaxes de investigación e as entrevistas en profundidade, emprestando unha atención á política e cultura galegas, aos movementos sociais e a economía solidaria e os consumidores, a unha visión alternativa da información internacional, e ás noticias científicas e das novas tecnoloxías.

Será un medio aberto, coa atención posta en todas as conversas e fluxos da Internet galega, á construción colaborativa de información cos propios lectores (crowdjournalism), á curación e selección de contidos publicados en Galicia e en todo o mundo, e á presentación gráfica das informacións, coas achegas de vídeo e infografía e unha avanzada e fermosa arquitectura realizada por A Navalla Suíza.

Será un medio transparente, do que os lectores e asinantes saberán en todo momento a orixe dos ingresos económicos e os custes de funcionamento.

Teses sobre ETA

Iñaki Gil de San Vicente. Artigo tirado de Galizalivre (aqui).



«O marxismo, a menos dogmática e a menos formal das doutrinas, em cujo enquadramento de generalizações ressaltam a carne viva e o sangue quente das lutas sociais e de suas paixões.» Trotsky 1915

«É verdade que prever significa unicamente ver claro o presente e o passado enquanto movimento. Ver claro: isto é, identificar com exatidão os elementos fundamentais e permanentes do processo. Mas é absurdo pensar em uma previsão puramente "objetiva" (...) Só aquele que quer com força identifica os elementos necessários para a realização de sua vontade.» Gramsci 1924

«Eles lutaram, fracassaram, lutaram de novo, fracassaram de novo, voltaram a lutar; acumularam uma experiência de 109 anos, uma experiência de centenas de lutas, grandes e pequenas, militares e políticas, econômicas e culturais, com ou sem derramamento de sangue, e só então obtiveram a vitória fundamental de hoje. Estas são as condições morais, sem as quais a revolução não poderia triunfar.» Mao 1949

1. O comunicado da ETA da passada quinta-feira 20 de outubro, que anunciava a cessação definitiva de sua acionar armado, confirma de novo que a ETA é uma organização política clandestina que por circunstâncias óbvias se viu na necessidade de recorrer à violência defensiva tática, à luta armada. Que a ETA é uma organização política foi reconhecido por comentadores espanhóis e pelos sucessivos governos do Estado espanhol que conversaram e negociaram com ela. Reconheceu-se também que sua influência política não desapareceu nos momentos de cessar-fogo ou de qualquer outra forma de cessação transitória de sua ação armada, plasmando-se doutra maneira, com outras expressões. A natureza política da ETA inscreve-se de pleno dentro da tradição marxista que sempre fez questão da dialética entre os objetivos históricos, a estratégia adequada para os atingir em cada fase e contexto de luta, e as adequações táticas que devem ser implementadas dentro da estratégia segundo variam as conjunturas e circunstâncias. Não só a longa história da ETA, como também a curta história prévia de EKIN e inclusive, apressando a análise, o prolongado processo de lenta confluência intermitente e gorada pelas ditaduras de 1923-1931 e de 1936 em adiante, entre diferentes correntes marxistas, socialistas, nacionalistas e independentistas bascas, este processo decisivo para entender o surgimento e a força de massas da ETA também se realizou segundo a dialética entre os fins e os meios, sempre dentro das mudanças forçadas pelas inovações repressivas dos sucessivos governos espanhóis.

2. Não faz falta insistir que em semelhante interação permanente de forças, a casualidade joga um papel maior ou menor dependendo de menor ou maior acerto estratégico e teórico da esquerda revolucionária. Neste sentido, é inegável a capacidade do «fenômeno ETA» para superar todas as adversidades e contingências. Não podemos entender esta permanência se utilizarmos definições mecânicas, não dialéticas. Há que entender a ETA como uma dupla realidade: por um lado, a ETA «quando muito mais que a ETA», isto é, como um complexo e intrincado movimento de (re)construção nacional basca que se sustenta apesar de tudo desde finais da década de 1950 e, por outro lado, «como muitas ETA» que vão aparecendo e desaparecendo no tempo, mas mantendo uma continuidade coerente baseada na luta por uns objetivos irrenunciáveis e elementares. O que liga as duas componentes desta realidade histórica é a inquestionável legitimidade do independentismo basco, sustentada apesar de todas as repressões, enganos e cisões sofridas. Apressando um pouco, poderíamos dizer que a ETA é como o rio de Heráclito que é e não é, que permanece apesar de que sempre muda. E esta inegável realidade histórica é incomprensível para o mecanicismo formalista do pensamento dominante.

3. Um pensamento dominante que de partida e durante anos afirmou a derrota imediata e definitiva extinção da ETA; que mais tarde afirmou que seu desaparecimento estava à beira de se produzir, e que agora sustenta triunfante que por fim a ETA foi derrotada. O rio que sempre flui, que nunca é o mesmo mas que permanece, que está e não está, segue rompendo os esquemas mentais dominantes, ao conseguir a ETA ultrapassar os sucessivos sistemas repressivos espanhóis, com suas doutrinas, estratégias e táticas, ultrapassagem perceptível a médio e longo prazo, mas não isenta de erros, estancamentos e momentos de crises. O Estado é o centralizador estratégico das táticas repressivas para garantir os objetivos do capital: seu lucro alargado. Quando é um Estado nacionalmente opressor, a centralidade estratégica das repressões adquire mais importância que quando não oprime outro ou outros povos. Na primeira situação, a espanhola e a francesa, a centralidade repressiva é muito superior à segunda, embora ela não negue a existência de repressões concretas que têm autonomia relativa, tanta autonomia aparente que muitos intelectuais terminam achando que o Estado desapareceu. Mas a realidade é teimosa e sempre termina se impondo, sobretudo quando se constata o avanço da luta independentista dos povos e quando a crise do capital obriga o Estado a intervir cruamente.

4. A evolução da ETA tem estado influenciada, além de pelaa repressão, também pelas duas grandes crises econômicas do capital, a iniciada em 1968-1973 e a iniciada em 2007, e pela crise da esquerda internacional agudizada pela contraofensiva neoliberal exacerbada desde a década de 1980. Foi uma influência direta no quíntuplo sentido de, um, o golpe à vertebração operário-fabril industrial clássico do povo trabalhador durante a falsa «reconversão industrial»; dois, a derrota das lutas armadas no centro do imperialismo e sua evolução nos povos oprimidos; três, a implosão da URSS e de seu bloco com o desprestígio do seu «socialismo»; quatro, os efeitos sociais do boom financeiro e imobiliário, do dinheiro barato, do consumo fácil, das modas pós-modernas e pós-marxistas e individualistas, do apoliticismo 'bacana', etc.; e, cinco, a surpreendente irrupção da crise atual em 2007, com sua gravidade ainda não assimilada teórica e politicamente em todas suas consequências por parte da esquerda abertzale, apesar das três greves gerais e da áspera e crescente luta de classes que se livra em nossa nação.

5. Mas além dos desgastes produzidos pela repressão sempre atualizada e pelos efeitos das crises, também pressionaram sobre a ETA os mecanismos de alienação e absorção inerentes à ordem capitalista, enquanto tal, sua «coerção surda» e a capacidade deste sistema para investir e ocultar a estrutura exploradora, apresentando as causas como efeitos e estes como aquelas. O capital é um sistema de relacionamentos sociais de exploração que se invisibiliza a si mesmo e que se reforça a si mesmo sumindo o trabalho na sua egoísta e individualista lógica do máximo lucro quanto antes e sem olhar a consequências. Conquanto a consciência nacional de povo oprimido, que sabe e sofre o colaboracionismo da sua burguesia com o Estado, atua como relativo contrapeso do fetichismo, sendo isto verdade, também não há que sobrevalorizar a sua efetividade emancipadora. Os três grandes problemas que afetam a ETA e a esquerda abertzale em seu conjunto, bem como ao processo ascendente que vai do autonomismo crítico, ao soberanismo e ao independentismo socialista são repressão, crise e fetichismo, porque ao formar uma sinergia multiplicam seu efeito paralisante e até reacionário, unionista e nacionalista espanhol e francês.

6. Partindo desta realidade, o enquadramento teórico sintetizado em três citações acima expostas permite-nos compreender tanto a evolução da ETA como, em uma escala maior, a do povo trabalhador desde sua formação na fase industrial do capitalismo basco no final do século XIX. É assim porque as três versam sobre duas componentes insubstituíveis do marxismo como praxe da revolução: por um lado, a dialética entre o objetivo e o subjetivo, e, por outro lado, a importância chave da ética socialista como força material que se plasma no processo histórico. Entre outros e outras muitas marxistas, Trotsky, Gramsci e Mao voltam a incidir em diversos tempos e espaços em que, ao longo dos decénios de luta, a subjetividade, a decisão lúcida e crítica, e a vontade de vencer, reforçada geração após geração, atuam como forças políticas física, materiais, tangíveis, à margem das táticas violentas ou pacíficas -formas diferentes de violência e de paz, et cetera- que se adotarem em cada período. Sem dúvida, a ética socialista revela-se mais facilmente como força de emancipação nas longas lutas sociais, sobretudo de libertação nacional de classe e de sexo-gênero, que nas relativamente curtas fases e ondas de luta de classes em sua orientação exclusivamente economicista e sindical, não política no sentido decisivo de tomada do poder. Aqui, a citação de Mao é mais apropriada para a experiência basca em geral e da ETA designadamente.

7. Com isto não negamos a importância decisiva de outras contribuições marxistas. Enquanto teoria matriz, o marxismo chega ao segredo das múltiplas explorações descobrindo como nascem e se desenvolvem, como crescem e interagem, surgindo impercetivelmente a partir das contradições essenciais do capital, a partir da sua identidade genético-estrutural; e explica ainda como esta expansão crescente das opressões diferenciadas em suas formas externas fica ainda mais complexa com o desenvolvimento desigual do histórico-genético. Como teoria matriz, o marxismo explica que o desenvolvimento desigual das lutas, desigualdade que deve ser assumida sobretudo em seu conteúdo de libertação nacional de classe e de sexo-gênero, sempre nos remete para uma escala mais ampla, a do desenvolvimento combinado da luta mundial entre o capital e o trabalho. A dialética entre estes dois níveis unidos no interior à totalidade deve ser teorizada, por um lado, mediante o internacionalismo proletário, hoje mais necessário que nunca ao ver como algumas esquerdas esgotadas se dobram diante dos ditados do capital mundializado; e, por outro lado, desde as experiências próprias dos povos trabalhadores em sua luta pelo socialismo e por sua verdadeira independência. Ambas práticas teóricas se baseiam só e exclusivamente na práxis revolucionária sustentada durante gerações, apesar dos altos, baixos e derrotas.

8. Deliberadamente, chegámos a um dos pontos de reflexão que queríamos propor: o do papel da consciência subjetiva de massas, da vontade de luta de um povo nacionalmente oprimido e seu entroncamento dentro do marxismo. A evolução da ETA e o comunicado do passado 20 de outubro remetem-nos para esta questão que, muito significativamente, marcou um dos pontos de separação entre o independentismo socialista e o marxismo libresco e formal, antidialético. Não vamos lembrar aqui as causas das sucessivas cisões dentro de independentismo socialista que optaram por vias que de um modo ou outro passavam pela aceitação do enquadramento estatal de resolução do conflito provocado pela ocupação espanhola de uma parte de Euskal Herria. Por enquadramento estatal de resolução entendemos a tese que sustenta que o futuro livre de Hego Euskal Herria só é possível dentro de um Estado espanhol federal ou confederal, mas Estado espanhol em definitivo.

9. Em outros textos defendemos a existência de um «marxismo espanhol» incapaz de romper sua dependência ontológica, epistemológica e axiológica com e do enquadramento de acumulação de capital que é a «nação espanhola» e não nos vamos estender agora. O que sim devemos repetir aqui é que esse enquadramento estato-nacional burguês tem uma falha interna que vai se agudizando, ou que fica a bolhar no subsolo, com a mundialização da lei do valor-trabalho e com a concentração, centralização e perequação de capitais dentro da União Europeia: referimo-nos à falência, à sima abisal criada ao conjugar-se a debilidade de uma burguesia que não se atreveu a realizar a sua revolução política-econômica, agrária e antifeudal, cultural e educativa, militar e de integração não maioritariamente violenta, com as dinâmicas desestabilizadoras que tendem a surgir das entranhas da contradição expansivo-constritiva inerente à definição simples de capital. Esta contradição é a base da territorialização do Estado-nação burguês como espaço centrípeto de acumulação geograficamente demarcado e a cada vez mais submetido às forças centrífugas da mundialização.

10. Bem, pois a ETA, como expressão e síntese da longa luta do povo trabalhador basco, age em parâmetros qualitativamente diferentes aos do «marxismo espanhol», já que o que propõe é, em primeiro e decisivo lugar, a independência estatal de Euskal Herria, assumindo, além disso, que o mesmo direito o têm o resto de nações e povos dominados pelo imperialismo espanhol. De uma perspetiva marxista, quer isto dizer que a liberdade dos povos e a emancipação das classes exploradas só podem ser conseguias mediante a extinção histórica do Estado espanhol como espaço material e simbólico de acumulação de capital e, por isso, de desenvolvimento da lei do valor-trabalho relativamente controlado pela classe dominante, pela burguesia espanhola. Uma vez que o Estado é a forma política do capital geograficamente localizado, por isso mesmo, a emancipação do trabalho -em sua tripla expressão de sexo-gênero, de nação e de classe- é inseparável da extinção do Estado.

11. Mais ainda, na situação basca, o direito à independência aparece já como a necessidade de um Estado independente. A dialética entre direito e necessidade está sujeita à agudização das contradições, de maneira que o direito, qualquer direito, se transforma em necessidade urgente do realizar, de praticar esse direito, conforme a opressão que o nega se endureceu a tal extremo que põe em risco a sobrevivência do coletivo que tem esse direito, embora não seja reconhecido, embora seja negado. O direito à greve, por exemplo, passa a ser necessidade imperiosa de fazer greve quando a patronal endurece suas agressões e o direito/necessidade de greve se transforma em necessidade de ocupar a fábrica, recuperando para a classe operária, quando o patronato quer a fechar definitivamente. Em essência, o mesmo acontece com o direito de autodeterminação: passa a ser necessidade quando o povo negado desse direito elementar compreende que sem seu exercício se multiplicam as explorações que sofre. E o direito/necessidade de autodeterminação salta a necessidade da independência estatal quando o contexto inteiro pressiona nessa direção.

12. O que rebole abaixo do direito/necessidade à independência, como à recuperação de uma fábrica, ou a impedir que um banco expulse de seu domicílio uma família operária, ou o direito/necessidade ao aborto consciente, livre e gratuito, et cetera, não é outra coisa que a luta contra a propriedade privada. A burguesia espanhola é agora proprietária do Povo Basco e do resto de nações que ocupa e explora, tal como é proprietária das forças produtivas e proprietária das mercadorias fabricadas pela classe trabalhadora; da mesma forma que o homem é proprietário da mulher e o imperialismo é proprietário de meio mundo. Pois bem, a independência em seu sentido pleno, socialista, significa a expropriação do expropriador, a recuperação da nação pelo povo oprimido, tal como, em outra escala, a classe operária recupera sua fábrica, a mulher recupera seu corpo e a família recupera seu domicílio ao impedir o despejo pelo banco, despejo executado graças ao direito burguês à propriedade privada, direito garantido e aplicado por suas forças repressivas e seu judiciário.

13. A ascensão do direito em abstrato à necessidade concreta e imperiosa realiza-se só mediante a luta revolucionária como síntese suprema de um sem fim de outras lutas coletivas e individuais mais superficiais embora sempre importantes. A luta revolucionária é radical porque vai à raiz, à recuperação da propriedade coletiva, pública, estatal, comunal e à construção do poder popular, do Estado próprio: propriedade coletiva e poder popular, tenho aqui a raiz. Somente a experiência adquirida nas lutas parciais e setoriais pode sentar a base teórica e política para ir confluindo na luta revolucionária dirigida à raiz. E nessa dinâmica ascendente os setores menos concienciados, que se limitam à reivindicação do direito abstrato, vão avançando com mais ou menos dificuldades à consciência política da necessidade da independência, da urgência de deixar de ser um objeto passivo propriedade da burguesía a chegar a ser um sujeito ativo proprietário de si mesmo. Naturalmente, este avanço é permanentemente obstruído por um sem fim de forças contrárias que buscam assegurar a dominação espanhola, de maneira que em absoluto se trata de uma ascensão linear e predeterminada, mas de uma luta que pode concluir em derrota.

14. Como organização política, a ETA foi muito consciente desta ascensão da abstração democraticista, necessária em si mesma como base de início, à consciência concreta da necessidade da independência. Um momento importante nessa ascensão está sendo o salto do autonomismo para o soberanismo como antessala do independentismo. Agora esses três níveis gerais, surcados a cada um deles por graduações específicas, se expressam já em Bildu e tendem a se expressar em Amaiur, como mostra da ascensão na mobilização democrático-institucional popular e de massas. Mas este lucro vinha já anunciado, além de por múltiplos práticas, pela crescente vontade de participação a vários níveis nos sucessivos períodos de contato, conversa e negociação entre a ETA e os governos espanhóis, e entre a esquerda abertzale e outras forças sociopolíticas, sindicais e populares com representantes desses governos. E para não nos estendermos, um outro exemplo é a efetividade com que a esquerda abertzale e a ETA foram ultrapassando a a cada vez mais duros sistemas repressivos.

15. A passagem do direito à necessidade fica refletido, fundamentalmente, na decisão de se empancipar conceptualmente, não só materialmente, com a lógica estatalista do pensamento espanhol e francês que atua como um buraco negro, que engole e pulveriza tudo. Uma vez constatada a suficiente acumulação crítica de iniciativa popular e social capaz de acelerar, estender e intensificar a consciência da necessidade do Estado independente, uma vez chegados a esta fase, a organização política ETA põe em marcha uma decisão já teorizada como possível desde faz muito tempo e vista como a cada vez mais provável conforme se materializa o avanço popular. O comunicado de 20 de outubro oficializa essa transformação nova de um processo de libertação que sempre muda reforçando sua permanência. Fazemos questão de que o mecanicismo é incapaz de entender esta dialética do movimento. Se por um instante recorrêssemos ao individualismo metodológico burguês, diríamos que da mesma forma em que na cada crises determinados marxistas individuais desataram o nó górdio que os atava ao passado voltando à dialética, o mesmo aconteceu várias vezes na história de ETA: recordemos, por exemplo, Txabi Etxebarrieta e Argala e sobretudo muitíssimos militantes anônimos, imprescindíveis heróis desconhecidos. Mas como uma das caraterísticas da esquerda abertzale é seu pensamento coletivo, dizemos que a dialética do movimento se expressa na praxe de dezenas e dezenas de milhares de pessoas.

16. Ora bem, porquanto movimento, a dialética dos contrários aparece a nu, e isso é muito bom porque descobre os riscos e perigos, e os erros. Aqui só podemos refletir sobre quatro. Um é o retrocesso na formação intelectual, teórica, da militância abertzale. Sempre o pensamento vai por trás da mudança do real, mas o pensamento tem de tentar que essa distância seja o mais pequena possível e, sobretudo, tem de tentar descobrir a tendência evolutiva das contradições, para conseguir incidir sobre elas. Em momentos de crises como o atual, prever as tendências é decisivo, mais se cabe quando a consciência da necessidade de um Estado independente segue assentado mais que tudo sobre desejos e anseios. O desejo chega a ser uma força revolucionária objetiva, como vimos nas três citações anteriores, mas sua efetividade emancipadora assenta sobre o conhecimento teórico do real, caso contrário, o desejo costuma terminar na decepção.

17. Outro risco, o segundo, nasce do anterior e atinge a urgência de argumentar a viabilidade de um Estado basco como pedra angular do independentismo no longo contexto mundial determinado pela atual crise. Avança-se devagar neste assunto, ainda sabendo, a grandes traços, a sua factibilidade. Superar os daninhos efeitos de várias modas ideológicas já destroçadas pela objetividade do capital em crise, é tanto mais urgente quanto que, ainda, setores do povo trabalhador e de sua juventude, setores da militancia abertzale, muitos setores do soberanismo e autonomismo critico, das forças democráticas, e o grosso da casta acadêmica, seguem parcial ou totalmente sob os influxos adormecedores dessas obsoletas e descartáveis mercadorias intelectuais. Conquanto se multiplicam os esforços para encurtar a distância entre a crise e o pensamento, ainda não saímos da zona de perigo que pode crescer pelo nossos erros, voltando a aumentar a distância entre a evolução do real e nosso lento desejo.

18. O terceiro risco não é outro que menosprezar a força paralisante e ordeira do capital em si, com seus recursos quase infinitos. Se falar sempre de burguesia é falar de Estado e de classes exploradas, de sua composição interna, agora é vitalmente urgente conhecer que é e como se expressa o povo trabalhador, as «grandes massas exploradas», na terminologia de Rosa Luxemburg. A recuperação do conceito de povo trabalhador e sua aplicação à realidade do capitalismo basco de finais dos anos 60 foi um dos acertos decisivos da ETA. A ficção e irrealidade de um suposto «capitalismo sem crise», da «nova economia», etc., acantoaram este conceito até quase esquecê-lo. Mas a realidade é teimosa e não pode ser ocultado por muito tempo a objetividade da exploração. Conhecer com suficiente rigor as diferentes frações e setores, camadas e estratos internos do povo trabalhador atual é imprescindível para realizar uma política acertada de aglutinação de forças, de alianças com a genericamente denominada «classe média», com a velha e nova pequena burguesia. São estas preocupações permanentes na história da ETA que nestes momentos voltam a mostrar sua decisiva influência.

19. E o quarto e último risco é o menosprezar a força de recuperação do nacionalismo imperialista espanhol e francês. A dinâmica abertzale orientada para a criação de um Estado próprio, que pode e deve chegar inclusive ao momento crítico de uma declaração de independência nacional à margem das instituições espanholas, tal qual existam nesse momento, sejam republicanas ou monárquicas, deve ter muito em conta que faz tempo que entramos na fase de luta entre modelos opostos de identidade nacional. Os cantos de sereia de que se pode ser ao mesmo tempo basco, espanhol e europeu foram silenciados pela barulhenta devastação da crise estrutural, civilizacional, de longa duração que afeta absolutamente toda a realidade humana e a seus sentimentos mais pessoais e íntimos. Neste novo contexto que se impõe com a imisericorde fiereza das leis do acumulação, a (re)criação de uma identidade basca progressista, solidária e aberta à inclusão, que busca ser uma força emancipadora em um mundo em luta contra a barbárie e o caos imperialista, esta identidade é uma força de libertação imprescindível.

20. A ETA, como processo histórico complexo mas ativo e atual, permanente, foi e é o fator decisivo para a sobrevivência do Povo Basco, embora não atue com as armas. E isto é assim porque sua simbologia referencial penetrou tanto no movimento do Povo Basco que já é a componente basal da sua (re)criação para se enfrentar vitoriosamente à longa fase histórica de malviver em um capitalismo que sobreviverá na medida que lho permitirmos. A independência socialista, que é outra das decisivas criações praxeológicas da ETA, está hoje mais vigente que nunca antes, e que esteja menos que amanhã depende de todas e todos.

Fiestras

Martiño Noriega Sánchez. Artigo tirado de Tempos Dixital. O autor do texto é médico de profesión, membro da Coordenadora do Encontro Irmandiño e alcalde de Teo.




Nesta democracia de baixo perfil, que ás veces acredita en non representarnos, a concentración do dióxido de carbono está a facer irrespirable o aire que inspiramos provocando unha somnolencia de gravidade…
con risco de dano vital irreparable no noso ser orgánico colectivo. Aínda así, nesta carreira acelerada de renuncias impulsadas por aqueles que non pasan polas urnas e aplicadas por aqueles que din non ter autonomía para non aplicalas, ábrense fiestras de esperanza.

A mobilización cidadá do 15-O é unha delas e agardo que, aínda que a moitos lles moleste, esta non esmoreza. Toda a xente que ateigou as rúas do país demostrou que non vai a dar un paso atrás e que, pese a quen lle pese, non vai a deixar de pensar. Precisamos pensar, analizar o que está a acontecer, establecer vasos comunicantes entre formacións sindicais e políticas alternativas cos movementos cidadáns e ser conscientes de que, nesta batalla contra aqueles que cos seus actos insultan a nosa intelixencia, non sobra ningún tecido vivo que latexe demandando modelos de sociedade alternativos e xustos.

O 20-O tamén se abriu outra fiestra de esperanza. Hai varias novas que un leva moito tempo agardando escoitar. O 20-O foi un día deses nos que puiden escoitar unha delas. Son fillo dun donostiarra e dunha galega emigrada en Caracas. Teño dende sempre a fonda convicción da necesidade de empregar as vías pacíficas, políticas e democráticas para a resolución dos conflitos. Por todo iso, para min, a nova do comunicado da organización terrorista ETA foi unha fiestra aberta á esperanza e o inicio da fin de moita dor futura. Cómpre investir en esperanza e xenerosidade para non dar un paso atrás. Xenerosidade para aqueles que non a tiveron, xenerosidade para restaurar a memoria das vítimas e, sobre todo, xenerosidade para entender que “a pelota vasca” está no tellado colectivo da única arma de futuro que precisamos nestes tempos, a da vontade democrática dun pobo.

Respiramos polo tanto cun pouco menos de dificultade mais precisamos non deixar de abrir fiestras. No próximo 20-N a cuestión non está nunha alternancia na xerencia da oficina de demolición e desmantelamento dos nosos dereitos socio-laborais e do estado do benestar. O próximo 20-N deberemos decidir se queremos permitir que continúe entrando o aire e polo tanto apostar por formacións alternativas críticas co modelo actual ou instalarnos na inercia de pasar de Guatemala a Guatepeor sen capacidade de reacción. Entre todos e todas, por acción ou omisión, construímos o futuro.

28/10/2011

Ultraliberalismo usan Grecia como cobaia da crise financeira

Michalis Kritsotakis. Artigo tirado de SinPermiso e traducido para o galego desde a tradución castelá. O autor é deputado pola formación Esquerda Radical.

Entrevistado por Kostis Damianakis, columnista da axencia brasileira Carta Maior, o deputado grego polo partido da Esquerda Radical, Michalis Kritsotakis, destacou a importancia dos movementos que xurdiron nos últimos meses no país, mais dubida que eles substitúan o potencial dunha esquerda unificada. Para o membro do Foro Social grego, os ajustadores do sistema ultraliberal usan a Grecia como o coello de indias para avaliar o comportamento e resistencias das sociedades nunha crise sistémica como a actual.

Deputado nacional desde as eleccións de 2009, profesor universitario, cunha mestría en administración de empresas, Michalis Kritsotakis, é protagonista do Foro de Diálogo e Acción Unida da Esquerda e da Coalición da Esquerda Radical, que desde 2004 reúne a dez partidos e ten dez bancas no Parlamento. El asegura que é un deber histórico da esquerda neste momento de crise, actuar unificadamente ao redor dos puntos de acordo e deixar para o futuro unha eventual discusión sobre a unión en torno un partido único.

Nunha entrevista exclusiva con Carta Maior, Kritsotakis responsabilizou ao sistema político bipartidista que goberna Grecia desde a ditadura militar por seguir un modelo de desenvolvemento errado, corrupto e adaptado aos intereses da minoría que detenta o poder financeiro. Na súa análise, a Esquerda ten parte da responsabilidade na crise do país, ao rexeitar unirse e priorizar a pureza ideolóxica. "Iso decepciona ao pobo e, por tanto, a nosa responsabilidade é aínda maior. A nosa proposta non é máis a de unir á esquerda, pois o partido comunista négase a discutir. A proposta hoxe é "chegar a un consenso e actuar xuntos no punto en que estamos de acordo".

Kritsotakis advertiu que a caída libre do país e a súa perda de soberanía xa teñen impactos fatais. O pobo grego está a enfrontar unha penuria sen precedentes nos índices sociais, feito que prexudica a súa saúde psicolóxica, pois "a perda do salario ou da xubilación, que leva ás persoas a estar baixo a liña de pobreza, a perda da esperanza, das perspectivas, da autoestima ". Para el, os ajustadores do sistema ultraliberal están a avaliar o comportamento e as resistencias sociais das sociedades nunha crise sistémica como esta.

Carta Maior: O goberno sostén que tiña que salvar ao país e que a culpa da crise é do goberno anterior e das características da sociedade grega. Quen ao final é o malo da quebra?

Michalis Kritsotakis: A responsabilidade absoluta é do sistema político bipartidista que nos goberna desde fan trinta anos, porque sempre coidou os intereses da minoría, que son os donos do poder financeiro, á conta da gran maioría do pobo. O sistema nunca desenvolveu a base produtiva do país, e basicamente seguiu un modelo de desenvolvemento equivocado, corrupto e adaptado aos intereses desa minoría financeira. A responsabilidade é do sistema bipartidista, nestes momentos, que é o que acepta, independentemente das súas pequenas diferenzas, a dominación da lóxica ultraliberal da Troica por encima do país. O memorándum que eles asinaron non ten ningunha posibilidade de axudar ao país a saír da crise. Pola contra, empúxanos cara ao fondo, aínda máis.

CM:  O goberno apóiase cada vez máis nas forzas policiais para conter a reacción do pobo contra as medidas e recortes impostos polo memorándum. Que doe máis nunha democracia, a violencia policial ou a pobreza?

MK: No momento en que os salarios e as pensións sofren recortes sen precedentes, o asalariado medio, o agricultor e o pequeno empresario sofren un golpe tras de de outro, é obvio que non van aguantar, nin a economía nin o pobo. A nosa economía é aínda familiar na súa meirande parte e a política do goberno atácaa no seu tronco. É fácil comprender que iso non pode pasar dunha maneira respectuosa dos dereitos e da democracia, e por iso o goberno recorre á violencia contra calquera que protesta, desde os agricultores, aos sindicalistas e aos movementos sociais. Aínda máis, dentro do propio Parlamento hai outro tipo de violencia exercida sobre a democracia, cando o goberno toma medidas ad hoc e leis que lles permiten asinar o memorándum e acordos sen pasar polo Parlamento. Estes son pequenos golpes non compatíbeis coa democracia.

CM: A esquerda pode ter un papel definitivo neste escenario, mais parece non saber ben como exercelo. Por que?

MK: Se a esquerda estivese unida podería exercer ese papel histórico, primeiro porque o goberno non ten máis a maioría, e a dereita, o outro polo do sistema bipartidista, non convence a ninguén. É un feito que a esquerda gañou puntos segundo as enquisas de opinión pública, mais está moi fragmentada. Niso contribúe unha lóxica irracional por unha banda da esquerda, que prioriza a pureza ideolóxica en lugar dunha acción unificada. Iso decepciona ao pobo e, por tanto, a nosa responsabilidade é maior. A nosa proposta non é máis a de unir á esquerda, pois o partido comunista rexeita discutir. A proposta hoxe da Coalición da Esquerda Radical é a de chegar a un consenso e actuar xuntos nos puntos que acordamos, e despois, fósese o caso, discutiremos os puntos de diverxencia. Lamentabelmente somos acusados o partido comunista de que esta proposta é desorientadora.

CM: Os movementos que xurdiron nos últimos meses como os "indignados" nas prazas e o movemento "non pagamos", teñen o potencial de exercer o papel que tería unha esquerda unida?

MK: Con certeza eses movementos poden axudar á unión do pobo grego, e aínda máis, obrigar a algunhas forzas políticas a comprender a realidade, pero na miña opinión non poden deseñar un programa maior, nin ofrecer unha proposta política integrada. Desgraciadamente, algunhas partes da esquerda chegaron ao momento de denunciar e desprezar colectivamente ese movemento. Entre tanto, no movemento das prazas participan persoas que ignoran as liñas partidarias, e iso aplica unha presión enorme neles. Eu diría que o maior achegue destes movementos é que conseguen levantar ao pobo da apatía do seu sofá, ao mesmo tempo que haxa unha variedade de ideas, ás veces inconvenientes, dentro das prazas. Por outra banda, o movemento "Non pagamos", é importante, porque desafía ao goberno e as súas medidas inconstitucionais, antidemocráticas, inxustas, e os que é peor, tamén ineficientes. Até agora o que foi arrincado violentamente do pobo desapareceu nun buraco negro e os índices empeoraron en lugar de mellorar. Iso justifica aínda máis a loita deses movementos.

CM : A revista Lancet publicou a semana pasada un estudo que mostra unha caída na expectativa de vida no país, acompañada polo aumento de suicidios e enfermidades psicolóxicas, características dos países en guerra. Grecia está en guerra?

MK - Probablemente. A Asociación Psiquiátrica de Grecia tamén alertou recentemente sobre o aumento no uso de antidepresivos e a demanda de asistencia. Enquisas sinalan que por cada 1 por cento de aumento no índice de desemprego, as doenzas psicolóxicas aumentan o 0,71 por cento. O feito, desalentador, entón, non é a perda do salario ou da pensión que leva as persoas por baixo do índice de pobreza, senón a perda da esperanza, da perspectiva, da autoestima, sentimentos que levan ao illamento, a comportamentos antisociais e a rabia, que ás veces, está direccionada xustamente contra sistema político. Deste xeito é creado un círculo vicioso en que para a xente é imposíbel saír, especialmente neste momento. Entón é necesario a creación polo pobo dun movemento masivo para resistir o modelo ultraliberal e aos seus portavoces, que nos levaron a este punto.

MC: Os empréstitos, previstos no memorándum do goberno coa Troica, veñen acompañados de condicionalidades impostas historicamente aos países non soberanos Que é o que hai cara a adiante?

MK- Neste momento o país parece indefenso. O desemprego aumenta e grande parte da sociedade caeu baixo a liña de pobreza. Xustamente actualmente unha grande parte do sistema político, en sintonía, atopou a oportunidade de vender os nosos recursos naturais e conceder a nosa forza de traballo indefensa ao capital. Alemaña especialmente ten condicionada a súa axuda á creación de zonas francas, onde as leis de traballo non se aplicarán, nin terán salarios mínimos. Ademais de todo, eles non queren ningunha restrición que teña que ver coa protección do medio ambiente e é por iso que o goberno sancionou leis como o fast-track, que axiliza este proceso. Alemaña quere transformar a Grecia nun laboratorio de enerxía renovábel para a exportación; o que nós, como partido, defendiamos hai anos como o camiño para a soberanía enerxética, está a tornar cara a un pesadelo. Ese tipo de investimentos en enerxía renovábel anulará a industria pesada das illas gregas, inclusive en Creta, que é o turismo. É un pouco traxicómico que a oposición maioritaria estexa esixindo máis axilidade ao goberno nestas concesións e na creación de leis que facilitan os investimentos.

CM- Aínda así esa receita é imposta polos gobernos centrais de Europa e o FMI, e até unha parte dos gregos apóiaa como camiño para saír da recesión e xerar empregos.

MK Esas paradigmas que mencionei son a aplicación da lóxica ultraliberal que di que, por encima de todo están os mercados. Eles definen todo, autoregúlanse, están porriba da política e dos países. Esta lóxica é moi patente ao mirar o papel central dos bancos nesta crise e a dominación das axencias de clasificación de riscos. Estamos a enfrontar, en realidade, a ditadura dos mercados por encima da política e da sociedade, que non conseguen resistir. O sistema político e a sociedade terminan servindo aos desexos dos mercados case como un vicioso en algo, neste caso é o crédito.

CM- Podemos dicir que o que eles fan en Grecia é o preludio de algo maior?

MK É moi importante que todos comprendan que Grecia hoxe é unha cobaia. A crise, é sistémica, expándese a outros países, e os axustadores do sistema queren avaliar até que punto poden chegar. A esquerda europea parece estar consciente diso. E como o noso opoñente, o sistema ultraliberal é algo transnacional, a nosa loita ten que ter características internacionalistas.

Europeus vão à China pedir ajuda contra crise

Cíntia Cardoso. Artigo tirado de RFI (aqui).


Além do esforço interno para tirar a Europa da crise, os emergentes também serão chamados a cooperar. Klaus Regling, o encarregado pelo Fundo Europeu de Estabilidade Financeira, irá à China amanhã para discutir como o país poderá ajudar.

O presidente da França, Nicolas Sarkozy, também está empenhado em obter a ajuda. Ele tefefonou para seu homólogo chinês, Hu Jintao, nesta quinta-feira. A China já havia manifestado o interesse de continuar a comprar papéis das dívidas soberanas de economias europeias. Mas ainda não se sabe com quanto os chineses poderão participar desse resgate da zona do euro. Os europeus sabem, porém, que essa ajuda terá um preço. A diplomacia chinesa diz que ps países europeus terão que "receber melhor" os investimentos diretos chineses. Tradução: a Europa terá que se abrir mais a empresas chinesas e comprar mais produtos "Made in China".

No plano bilateral, a República Popular da China também espera contar com o endosso europeu na Organização Mundial de Comércio. Há vários anos, a China espera ser reconhecida como economia de mercado pela OMC. Com esse novo status, as exportações chinesas seriam beneficiadas com a redução de barreiras alfandegárias.

A recuperação da zona do euro é essencial para a economia chinesa que tem, na Europa, seu principal parceiro comercial. A economia chinesa já é um dos maiores credores da Europa. Segundo analistas, ele teria, nas suas reservas, algo entre entre 400 e 600 bilhões de euros. A China também investiu pesado nos títulos da dívida americana e detém cerca de US$ 2 trilhões.

As autoridades europeias também não descartam o apoio do Brasil e da Rússia, mas os dois deixaram claro que poderiam eventualmente intervir por meio do Fundo Monetário Internacional e não diretamente na compra de títulos. A Índia e Rússia, também não manifestou a intenção de adquitir títulos da dívida europeia. A turnê europeia para reforçar o pacote de salvamento passa também por outros parceiros do mundo desenvolvido. Regling irá ao Japão, que acumula neste ano compra de 2,28 bilhões de euros de bônus europeus e à Noruega.

27/10/2011

Gadafi e a putrefacción moral do imperio

Artigo de Atílio Borón, tirado do site do Encontro Irmandiño (aquí).
Eran outros tempos... segue sendo a mesma xente que decide quen vale e quen non no imperialismo dos dereitos humanos. Imaxe tirada de aquí. Máis artigos sobre Libia en Á revolta entre a mocidade aquí.


O brutal asasinato de Muamar Al Gadafi a mans dunha xauría de mercenarios organizados e financiados polos gobernos “democráticos” de Estados Unidos, de Francia e de Grande Bretaña actualiza dolorosamente a vixencia dun vello aforismo: “socialismo ou barbarie”. Non só iso: tamén confirma outra tese, ratificada unha e outra volta que di que os imperios en decadencia procuran reverter o veredicto inexorábel da historia exacerbando a súa agresividade e os seus atropelos no medio dun clima de insoportábel descomposición moral. Ocorreu co imperio romano, logo co español, máis tarde co otomano, despois co británico, o portugués e hoxe está a ocorrer co norteamericano. Non outra é a conclusión que pode tirarse ao mirar os numerosos vídeos que ilustran a forma en que se “fixo xustiza” co Gadafi, algo que descualifica irreparabelmente a quen se arrogan a condición de representantes dos máis elevados valores da civilización occidental. Sobre esta cabería lembrar a resposta que dera o Mahatma Gandhi á pregunta dun xornalista, interesado en coñecer a opinión do líder asiático sobre o tema: “é unha boa idea”, respondeu con sorna.

O imperialismo necesitaba ao Gadafi morto, o mesmo que ao Bin Laden. Vivos eran un perigo inmediato, porque as súas declaracións en sede xudicial xa non serían tan doadas de ocultar diante da opinión pública mundial como o foi no caso do Sadam Hussein. Se o Gadafi falaba podería facer espectaculares revelacións, confirmando numerosas sospeitas e abonando moitas intuicións que poderían ser documentadas contundentemente polo líder libio, achegando nomes de homes de palla imperiais, datos de contratos, comisións e subornos pagos a xestores, contas nas cales se depositaron os fondos e moitas cousas máis. Poderiamos saber que foi o que Estados Unidos lle ofreceu en troques da súa suicida colaboración na “loita contra o terrorismo”, que permitiu que en Libia se torturara aos sospeitosos que Washington non podía atormentar en Estados Unidos. Teriamos tamén sabido canto diñeiro achegou para a campaña presidencial de Sarkozy e que obtivo a cambio; cales foron os termos do arranxo con Tony Blair e a razón pola cal fixo donativos tan xenerosos á London School of Economics; como se organizou a trata de persoas para enviar mozas novas ao decrépito fauno italiano, Silvio Berlusconi , e tantas cousas máis. Por iso era necesario calalo, fose como fose. O último Gadafi, o que se vota aos brazos dos imperialistas, cometeu unha sucesión de erros impropios de alguén que xa viña exercendo o poder durante trinta anos, sobre todo se se ten en conta o que o poder ensina. Primeiro erro: crer na palabra dos líderes occidentais, mafiosos de colo branco aos cales xamais hai que crerlles porque máis aló dos seus trazos individuais -desprezábeis salvo algunha que outra excepción- son a personificación dun sistema intrinsecamente inmoral, corrupto e irreformábel. Viríalle ben a Gadafi ter lembrado aquela sentenza do Che Guevara cando dicía que “non se pode confiar no imperialismo nin unha chisca así!” E el confiou. E ao facelo cometeu un segundo erro: desarmarse.

Se os canallas da OTAN puideron bombardear a piacere a Libia foi porque o Gadafi desarticulara o seu sistema de defensa antiaérea e xa non tiña mísiles terra-aire. “Agora somos amigos”, dixéronlle Bush, Obama, Blair, Aznar, Zapatero, Sarkozy, Berlusconi, e el créunos. Terceiro erro, esquecer que como o lembra Noam Chomsky Estados Unidos só ataca a rivais débeis e inermes, ou que os considera como tales. Por iso puido atacar o Iraq, cando xa estaba desangrado pola guerra co Irán e longos anos de bloqueo. Por iso non ataca a Cuba, porque segundo os propios informes da CIA ocupar militarmente a illa custaríalle un mínimo de vinte mil mortos, prezo demasiado caro para calquera presidente.

Os imperialistas negáronlle ao Gadafi o que lle concederon aos xerarcas nazis que aniquilaron a seis millóns de xudeus. Foron os seus crimes máis monstruosos que as atrocidades dos nazis? E o Fiscal Xeral da Corte Penal Internacional, Luís Moreno Ocampo, mira para outro lado cando debería iniciar unha demanda contra do xefe da OTAN, causante dunhas 70.000 mortes de civís libios. Nunha mostra de repugnante putrefacción moral a Secretaria de Estado Hillary Clinton celebrou con risas e bromas a noticia do asasinato de Gadafi. (Ver http://www.youtube.com/watch?v=Fgcd1ghag5Y) Un pouco máis cautelosa foi a reacción do Tío Tom (o escravo negro apoltronado que pensa e actúa en función dos seus amos brancos) que habita na Casa Branca, mais que xa hai unhas semanas se mostrara compracido coa eficacia da metodoloxía ensaiada en Libia, a mesma que advertiu podería ser aplicada a outros líderes non dispostos a lamberlle as botas ao Tío Sam. Esta ocasional vitoria, preludio dunha infernal guerra civil que conmoverá a Libia e todo o mundo árabe en pouco tempo máis, non deterá a caída do imperio. Mentres tanto, como o observa un agudo filósofo italiano, Domenico Losurdo, o crime de Sirte puxo en evidencia algo impensábel até hai poucos meses atrás: a superioridade moral de Gadafi respecto dos carniceiros de Washington e Bruxelas. Dixo que loitaría até o final, que non abandonaría ao seu pobo e respectou a súa palabra. Con iso bástalle e sóbralle para erguerse por riba dos seus vitimarios.

O BNG rexeita a oferta de ERC de formar grupo con Bildu no Congreso tras as eleccións

Nova tirada de Faro de Vigo (aquí).

Imaxe tirada de Terra Noticias.

O portavoz do Bloque Nacionalista Galego no Congreso, Francisco Jorquera, asegurou onte que non está entre as "preferencias" da súa formación formar un grupo parlamentario con Amaiur –coalición electoral formada por Bildu e Aralar– tras as eleccións xerais do 20 de novembro. Así o asegurou o dirixente nacionalistas despois de que o candidato de ERC ao Congreso Alfred Bosch abrise onte a porta a formar grupo coa esquerda abertzale no Cámara Baixa, alianza que fixo extensible ás formacións nacionalistas de Galiza e da Comunidade Valenciana.

Con todo, o portavoz parlamentario do Bloque e cabeza de lista pola provincia da Coruña subliñou que o BNG non traballa coa hipótese de formar grupo con Amaiur, nin sequera ante a posibilidade de que a coalición que forman Bildu e Aralar non logre o cinco deputados que lle permitirían ter grupo propio no Congreso e teña que buscar socios para non acabar no Grupo Mixto, onde actualmente están integrados os nacionalistas galegos, que tampouco reúnen o mínimo de deputados esixidos para contar con grupo propio.

Iso si, Jorquera asume que, unha vez celébrense os comicios e véxase que resultado obtivo cada partido, haberá que estudar todas as posibilidades que permita no Regulamento do Congreso para formar grupos parlamentarios, tendo en conta das dificultades de funcionamento que, ao seu xuízo, tería un Grupo Mixto formado por infinidade de formacións.

"Haberá que ver que opcións regulamentarias hai para garantir un bo funcionamento parlamentario e que os debates sexan reflexo da pluralidade da Cámara", admitiu o deputado nacionalista.

Para Esquerra Republicana de Cataluña non habería problema de formar unha alianza con Amaiur, se teñen os deputados suficientes."En termos de ética é posíbel, en termos de aritmética xa o veremos", dixo.

"Na medida que a esquerda abertzale se pronuncie por medios pacíficos e democráticos non hai ningún tipo de obstáculo", sentenciou en rolda de prensa o candidato republicano, que xustificou que ambas as formacións teñen propostas moi coincidentes. Bosch recalcou que a súa candidatura non terá problemas para coligarse con aqueles partidos que teñan unha "folla de ruta" similar, polo que a posible alianza con Amaiur a feito extensíbel ao Bloque. 

O entendemento coa esquerda abertzale tería que servir, segundo Bosch, para pór o "dereito a decidir" en "un dos puntos máis altos da axenda política" do Estado, sobre todo agora que ETA anunciou o cesamento definitivo da súa actividade armada.

Os independentistas cataláns defenden que, tras o comunicado da banda terrorista, o Estado xa non ten escusa para rexeitar o dereito á autodeterminación de cataláns e vascos, polo que unha unión ERC-Amaiur podería servir para reivindicalo con máis forza.

27-O en defensa da sanidade pública

Artigo tirado do site do Encontro Irmandiño (aquí).

O Encontro Irmandiño apoia as manifestacións e a Iniciativa Lexislativa Popular en defensa e promoción da sanidade pública galega. 26/10/2011

O Encontro Irmandiño apoia a Iniciativa Lexislativa Popular e as manifestacións convocadas pola plataforma SOS Sanidade Pública para o día 27 de outubro en todas as áreas sanitarias. En defensa do carácter público da sanidade, pola xestión pública e directa dos servizos sanitarios, polo fortalecemento da Atención Primaria e polo mantemento do modelo descentralizado do sistema sanitario galego a través das áreas sanitarias.

A Iniciativa subscrita por representantes de todas as organizacións que integran SOS propón catro puntos:
1.- A defensa do carácter público da sanidade como garantía do dereito á saúde de todos os galegos.

2.- A xestión pública e directa dos servizos sanitarios e o rexeitamento ás formas de financiamento e xestión privada introducidas pola Xunta de Galicia.

3.- A necesidade de incrementar a capacidade resolutiva da Atención Primaria mellorando os seus recursos e o acceso ás tecnoloxías diagnósticas, como base dun sistema sanitario accesíbel, equitativo e eficiente.

4.- Mantemento do modelo descentralizado do sistema sanitario galego a través das áreas sanitarias, como espazos para a planificación, asignación e xestión integral dos recursos en base ás necesidades sanitarias da poboación e coa súa participación activa.

Unha vez presentada no Parlamento, SOS e as organizacións que a apoian recollerán firmas por toda Galiza aproveitando esta actividade para explicar e debater coa cidadanía as políticas de recorte e privatización que esta levan a cabo a Consellería de Sanidade e a Xunta de Galiza

Tamén se convocaron mobilizacións para o día 27 de outubro, en todas as áreas sanitarias en defensa da sanidade pública e contra os recortes de recursos sanitarios da Xunta.

26/10/2011

O Sindicato Labrego apoiará todas as manifestacións en defensa da sanidade pública do 27 de outubro

Tirado do site do Sindicato Labrego Galego (SLG).

O Sindicato Labrego Galego apoiará todas as manifestacións en defensa da sanidade pública que terán lugar mañá xoves, 27 de outubro, ás 20:00 horas.


Por vez primeira vez, desde que a sanidade foi transferida a Galiza, diminúen os orzamentos nesta consellería, en concreto 16,4 millóns de euros menos ca no 2011, ano no que xa se experimentaran recortes; aumentando, pola contra, a partida para os hospitais concertados. As consellerías de Educación, Sanidade e Traballo e Benestar perden conxuntamente 52,4 millóns de euros no vindeiro ano.

Estes recortes estannos afectando dun xeito dramático nas zonas rurais, nas que xa temos uns servizos reducidos que agora pretenden aínda limitar máis. No proxecto de Lei de Medidas fiscais, o goberno galego propón, por exemplo, eliminar os centros de farmacia propios en hospitais e centros sanitarios con menos de 100 camas, así como eliminar a obrigatoriedade de que haxa unha farmacia de garda aberta pola noite en localidades con 3 ou menos farmacias. Isto, nun contexto no que o gasto en Galiza é moi inferior á media Europea: por cada 9 euros que se dedican á sanidade pública na Unión Europea, en Galiza dedícanse 6 euros e, aínda así, temos unha sanidade pública equiparábel á de calquera país da UE.

O goberno presidido por Feijoo paralizou o Plano de Mellora na Atención Primaria que, ademais de reducir as listas de espera ao ter unha atención primaria máis resolutiva e máis coordinada cos hospitais, ía crear centos de postos de traballo. Reduciu consultas e quirófanos de tarde co incremento das listas de espera, eliminou persoal e impide a súa substitución, coa conseguinte diminución de calidade asistencial.

Paralizou tamén o Plano Galego de Saúde Mental e aprobou un decreto de transporte sanitario que deixa as portas abertas para que os doentes que acoden a recibir tratamentos de diálise, rehabilitación, quimioterapia, etc, teñan que pagar ese transporte. Nese decreto desaparece a obriga do Sergas de facerse cargo do mesmo.

Privatízase a construción e a xestión do novos hospitais, como no caso do de Vigo: reducindo o número de camas e os servizos cos que ía contar no anterior proxecto, e triplicando o seu custo de 500 millóns de euros a 1.500 millóns.

A Sanidade Pública é un piar fundamental do Estado do Benestar e non podemos permitir que a destrúan. Por iso, este xoves 27 de outubro, as xentes do Sindicato Labrego Galego sairán á rúa en defensa da sanidade pública, en defensa da saúde de todas as persoas e contra da privatización.

SERGAS nom prestará atençom médica aos pobres nem aos imigrantes

Artigo tirado de Galizalivre (aqui).

O “serviço universal e gratuito” da sanidade recolhido pola legislaçom espanhola vem de ser banido na prática por um protocolo interno do SERGAS, que restringe a atençom médica a quem nom possuir cartom sanitário (estrangeiros e desempregados). Serám rejeitados nos ambulatórios e cominados a se dirigirem ao serviço de Urgências mais próximo, onde somente os atenderám depois de assinarem um “compromisso de pagamento”. Quinta-feira 27 há convocadas mobilizaçons em todas as cidades e vilas do País contra os recurtes do PP na Saúde.

“Nom trabalhas? Nom vaias ao médico”

O protocolo da conselheira Pilar Farjas está já em vigor desde o 29 de setembro, tendo-se verificado a sua aplicaçom paulatina polo pessoal administrativo do SERGAS. Está dirigido às pessoas que nem possuem cartom sanitário nem figuram como “beneficiários” do cartom de outra pessoa, quer dizer, que vai privar de assistência médica principalmente a estrangeiros sem papéis, a imigrantes recém chegados e a parados que pertençam a famílias onde todos os componentes estám no desemprego (caso contrário os parados poderiam registar-se como beneficiários do familiar que sim trabalhe).

Estas pessoas conformam o grupo PSR, “pessoas sem recursos suficientes”, que daqui por diante nom terám assignado médico de cabeceira, enfermagem para injeçons e curas, nem receitas para doenças (com o custo económico que isso implica).

A CIG filtrou a redaçom exata do protocolo, cujo parágrafo mais salientável reza assim:
“Dende a entrada en vigor da Orde (o 29 de setembro de 2011) as persoas que solicitan como PSR teñen dereito á atención de urxencias e emerxencias, polo que, ante á solicitude dunha atención urxente é necesario dar unha alta rápida no aplicativo con documentación acreditativa "PRIVADO", previa búsqueda do cidadán na aplicación, sempre se lles entregará o modelo de compromiso de pago para que o asinen, escribindo a man (mentres non esté preparado o modelo na aplicación) o seguinte texto:

Persoas sen recursos económicos suficientes en tramitación. So asistencia urxencia/emerxencia”.

Manifestaçons quinta-feira

A Plataforma SOS Sanidade Pública, integrada polos três sindicatos maioritários (CIG, CCOO e UGT) e por numerosos partidos e associaçons, convocou para esta quinta-feira umha mobilizaçom nacional que levará às ruas a defesa do serviço público sanitário. Há previstas manifestaçons, concentraçons e atos públicos em todas as cidades e muitas vilas medianas do País (veja-se a listagem completa na seçom Agenda deste portal), que se prevé sejam multitudinárias.

A Plataforma denuncia que os recurtes orçamentários da Junta de Feijoo levam à falência o sistema sanitário, após a descida de 26 milhons de euros (30% do total) das partidas de investimento, e de 22 milhons nas de gasto corrente.

Sobre o concepto de decrecemento

Juan Torres López. Artigo tirado de Ganas de Escribir (site do autor) e traducido por nós para o galego. Achegamos este ponto de vista alternativo sobre o decrecemento para contrastar con outras achegas que temos feito ao longo dos tres anos de vida deste blogue.

Este texto resume unha exposición máis completa e documentada sobre as teses do decrecimiento que publicarei nun libro próximo. Aquí tratarei de mostrar da maneira máis breve e intuitiva posíbel algunhas inconsistencias que ao meu modesto modo de ver presenta o concepto de decrecimiento, aínda que quixese sinalar primeiro de nada que teño unha grande simpatía polas persoas que o defenden. Comparto a súa paradigma de cambio social anticapitalista baseado no desenvolvemento de novas formas de producir, de distribuír, de consumir e de pensar. Simplemente discrepo do concepto de decrecimiento que utilizan para definir tales estratexias porque creo que carece de rigor, que non pode facerse operativo, porque creo que non responde á realidade do capitalismo dos nosos días e porque, por esas razóns, paréceme que só pode servir para estimular unha crenza ou simples accións testimonialistas pero non para combater eficazmente o capitalismo.

O mito do crecemento mais ao revés

Quen defenden o decrecimiento poden dicir que están a pensar noutra cosa pero é innegábel que cando utilizan ese termo están a falar de diminuír os indicadores que miden a dimensión cuantitativa e monetaria da actividade económica e máis concretamente o PIB.

É verdade que os decrecentistas dinnos que ademais diso, ademais de reducir o PIB, a produción e o consumo, o decrecimiento é algo máis (redistribución, decrecimiento só para os ricos, valores de austeridade...) pero iso non nega a maior: o decrecimiento é, primeiro de nada, a diminución da magnitude que mide a produción, o consumo ou ambas as cousas á vez.

Para os defensores ortodoxos da economía convencional, todo o que teñen que facerse para que as economías funcionen ben é recorrer ao "termómetro" do crecemento e facelo crecer. Naturalmente, como lles pasa aos decrecentistas no lado contrario, ningún economista ortodoxo defensor do mito do crecemento admitiría que se limita a promover soamente que creza a actividade porque afirmaría que non é suficiente con crecer senón que sempre fai falta algo máis: unha combinación apropiada de mercado e estado, institucións eficientes, incentivos adecuados, etc.

Quéirase ou non, defender o concepto de decrecemento é recorrer ao mesmo instrumento, ao termómetro, aínda que -a diferenza dos ortodoxos- para dicirlle agora ao enfermo que os seus males desaparecen simplemente se baixa a súa temperatura, a taxa de crecemento.

O concepto de decrecimiento ou non se pode pór en práctica ou significa o contrario do que propón

O segundo grande problema que expón o concepto de decrecimiento é que hai que facelo operativo. Se se lle di á sociedade que a solución aos seus problemas é que decreza a produción e o consumo debe dicírselle en que contía concreta deben baixar porque, loxicamente, non pode dar igual que baixe un 5 que un 50 ou un 500%.

Para ser consecuente coa proposta de decrecimiento que se fai, este ten que manifestarse nunha determinada variación negativa dunha magnitude concreta que o reflita. Máis exactamente, nunha magnitude que exprese a cantidade total da produción e do consumo que ten que decrecer para poder determinar así en que cantidade propoñen que se reduza.

É dicir, o decrecimiento necesita exactamente o mesmo tipo de indicador que necesitan os partidarios do crecemento e, de feito, nos exemplos que utilizan refírense mesmo ao mesmo termo: o Produto Interior Bruto. Un indicador sobre cuxas carencias e limitacións non creo que sexa necesario insistir aquí.

Os partidarios do crecemento utilízano porque asumen unha ficción: que a actividade económica é só o proceso de produción/consumo de bens e servizos con expresión monetaria. E o problema do concepto de decrecemento é que, ao utilizar tamén o PIB como magnitude de referencia, está a asumirse tamén esa ficción, aínda que os decrecentistas non queiran recoñecelo.

Para responder a esta obxección, os decrecentistas responden que entón, en lugar de utilizar o PIB, poderían recorrer a outro indicador.

Porén a cuestión estriba en que é sinxelamente imposíbel dispor dun indicador que proporcione ese "cómputo final" que nos indique o que ocorre "coa economía en conxunto".

A razón desta imposibilidade é que os factores que inevitabelmente temos que tomar en consideración se queremos pór sobre a mesa unha proposta política integral de progreso social (monetarios, materiais, físicos, enerxéticos, éticos, emocionais...) e non unha puramente economicista (baseada nunha simple medición da actividade con expresión monetaria), son heteroxéneos e non se poden integrar nunha magnitude homoxénea que proporcione un resultado de crecemento ou decrecemento que sexa inequivocamente satisfactorio ou indiscutíbel.

Un concepto "ricocéntrico"

Cando se expón a estratexia do decrecemento adóitase pór coidado en sinalar que se trata de que diminúa a produción e o consumo dos ricos. Porén tamén aquí aparecen varios problemas.

En primeiro lugar, é moi difícil, por non dicir imposíbel, poder separar a produción e o consumo de "ricos e pobres" (ou de mulleres e homes, que tamén sería pertinente, por certo) sobre todo, cando non se está facendo por parte dos seus defensores unha análise de clases sociais ou de xénero do decrecemento.

En segundo lugar, eu creo que, aínda que analiticamente fose posíbel (que creo que non o é e desde logo os defensores do decrecemento non demostran que o sexa), discernir entre a produción e o consumo dos ricos e o dos pobres que debe subir ou baixar independentemente un do outro, a poboación empobrecida tería moitas dificultades para asumir como propio un proxecto que se presenta como de redución xeral da posibilidade de satisfacer en maior medida as súas necesidades.

Direino máis claro anticipándome ao que sinalarei máis adiante: o que necesita a inmensa maioría da sociedade que hoxe día está insatisfeita e que se supón é o que debería apoiar un movemento como o do decrecemento é que creza a produción de bens e servizos á súa disposición, e non ao contrario. Aínda que iso haxa que facelo, iso si, con outro modo de producir, de consumir e de pensar.

Neste punto poderíaseme argumentar que unha grande parte das clases traballadoras son consumistas e que están dominadas pola ideoloxía do consumo e o gasto e que o que acabo de dicir contribuiría a exacerbar aínda máis ese fenómeno. Porén, aínda que non podo desenvolver este asunto aquí, creo que se podería argumentar facilmente que o consumismo non ten que ver coa cantidade de bens dispoñíbeis ou efectivamente dispostos. Pódese ser consumista cun salario de 700 euros mensuais pero o que precisamente demostra iso é que para combater o consumismo non basta con diminuír a provisión de bens, senón que máis ben é necesario, pola contra, é que creza a daqueles que poden contribuír á mellor formación, á autonomía persoal, ao bo criterio, etc. dos seres humanos. Aínda que, loxicamente, procurando que iso leve a cabo sen provocar danos engadidos á vida, ao equilibrio social e ao do planeta.

Un concepto alleo á realidade do capitalismo actual

No transfondo da proposta do decrecimiento latexa a idea de que o capitalismo provocou un crecemento da produción inmenso e insustentábel que se debe deter. E quen escoita a proposta do decrecimiento en xeral non pode senón confirmar a idea de que a abundancia sen límite da nosa sociedade vai provocar unha xigantesca desfeita que hai que tratar de parar.

Na miña opinión, iso é outro erro de graves consecuencias políticas porque non me parece certo que a Humanidade viva na civilización da abundancia. O dano ao medio ambiente, o perigo indubidábel que o noso modo de vivir e de organizar a sociedade produce no planeta hipotecando a vida e o benestar das xeracións futuras non se deben a que se produza demasiado para todos e haxa, por tanto, que deter a produción e o consumo de todos, senón a que se produce e consómese mal e dunha forma moi desigualmente distribuída entre os distintos seres e grupos humanos.

Os datos que nos indican que unha parte importantísima da poboación mundial carece dos bens máis esenciais son ben coñecidos e non me vou a deter neles.

Nin sequera é correcto afirmar que as economías capitalistas estexan a rexistrar taxas elevadas de crecemento. De feito, o que vén ocorrendo é o contrario e convén explicalo ben á poboación e á hora de facer propostas políticas. As políticas ultraliberais provocaron precisamente unha diminución dos ritmos de crecemento da actividade económica mesmo medidos a través do PIB provocando así máis desemprego e carencias de todo en grande parte da poboación (e non só na posesión de bens superfluos senón na disposición de educación, sanidade, coidados, cultura...).

Non nos confundamos: o capitalismo ultraliberal produce moito mais para poucos, moi pouco para moitos e, sobre todo, bastante mal para todos.

O erro que eu encontro no discurso dos partidarios do decrecimiento é que confunden a insostenibilidad que produce un mal modo de producir e unha lóxica desigual de repartición cun problema de cantidade. Fállase ao caracterizar a realidade e entón aplícase a terapia inadecuada.

Por iso, a alternativa non pode ser simplemente diminuír cuantitativamente a actividade económica senón producir o necesario doutro xeito e distribuír con xustiza, e para iso reorientar a actividade económica cara á satisfacción que ten que ver coa vida humana no oikos, liberándoa da escravitude que lle impón o mercado ao universalizar o intercambio mercantil e o uso do diñeiro (a "puta universal", como Marx lembraba que o chamou Shakespeare) como equivalente xeral.

Nin sequera debería darnos medo o verbo crecer. Todo o contrario. É desexábel crecer (e mesmo creo que iso comporta unha mensaxe máis humana e optimista) na satisfacción das necesidades humanas, na produción de todo aquilo que as satisfai dun modo equilibrado e natural. Facer crecer a satisfacción solidaria e pacífica das necesidades humanas non é algo indesexábel senón unha aspiración lóxica que non temos dereito a frustrar, aínda que, iso si, temos que aprender a conxugala na práctica coa austeridade, co equilibrio, co amor á especie e á natureza e, sobre todo, co respecto indeclinábel ao dereito que todos os seres humanos temos a estar igual de satisfeitos que os demais e que é o que obriga a negociar e establecer dun modo democrático a pauta da repartición da riqueza.

Unha proposta desmovilizadora e politicamente inocua, aínda que estea chea de boas intencións

O problema de confundir a natureza do capitalismo dos nosos días non só leva a propor unha estratexia inadecuada para resolver o problema obxectivo da destrución ambiental e do mal uso dos recursos. Ademais, comporta un discurso que confunde á poboación, que lle impide entender a natureza do mundo en que vive e que, ao proporlle medidas que nunca poden resultar atractivas cando á maioría dela ten insatisfeitas a maior parte das súas necesidades, non permite concitar apoio nin xerar mobilización política suficientes para cambiar os estados de cousas actual.

Como di José Manuel Naredo, un termo con pretensións políticas (como o de decrecemento) que pretende articular un enfoque económico alternativo ao actualmente dominante "necesita ter á vez un respaldo conceptual e un atractivo asegurados, dos que carece o termo decrecimiento (...) Por iso é polo que o movemento ecoloxista que defende o decrecemento ten que empezar a pórlle apelidos para que o obxectivo resulte intelixíbel e razoábel desde fóra do enfoque económico ordinario" (José Manuel Naredo, Luces en el labirinto, A Catarata, Madrid 2009, pp. 214-217).

Conclusión

Todo o que acabo de sinalar non quere dicir que a actividade que despregan os defensores do decrecemento sexa inútil. Entendo, como dixen ao comezo deste texto, que o discurso engadido á proposta do decrecemento e que implica a posta en práctica de novas relacións de consumo (formas distintas de produción, e novos valores humanos de solidariedade, austeridade, xustiza, cooperación, etc.) é hoxe día imprescindíbel. Porén mentres a formulación que dea pé a este discurso e a estes valores sexa a do decrecemento tal e como hoxe mantense, e á que dediquei este texto, o que na miña opinión se estará xerando será un movemento ao redor dunha crenza e non ao redor dun concepto rigoroso e que poida ser levado á práctica de modo coherente coa devandita filosofía. estar a promover un movemento testemuñal, moi necesario sen dúbida e exemplar se se quere desde o punto de vista do compromiso persoal e colectivo, pero que nunca poderá promover unha solución efectiva, operativa e politicamente viábel fronte aos problemas contra os que se quere actuar. En definitiva, co precario arsenal teórico do que hoxe día dispón o decrecemento poderá ser un movemento atractivo mais que só pode ofrecer unha crenza, unha aposta moral, unha filosofía ou unha prática persoal, como acabo de dicir, moi valiosas mais incapaces de concretarse nun proxecto político e, por tanto, nunha acción social colectiva realmente transformadora.

Noam Chomsky defende as línguas minoritárias e minorizadas

Avram Noam Chomsky (Filadelfia, 1928). Collido de Carta Xeométrica (aquí).



Occupy Wall Street: quatro etapas e um desafio

Immanuel Wallerstein. Artigo tirado de Outras Palavras (aqui).   Tradução: Paulo Cezar de Mello.  


Movimento deixará legado positivo e duradouro. Mas pode tornar-se ainda mais potente, e alcançar objetivos imediatos


O movimento Occupy Wall Street – por enquanto, é um movimento – é o acontecimento político mais importante nos Estados Unidos desde as rebeliões de 1968, das quais é descendente ou continuação direta.

Por que começou nos Estados Unidos em dado momento – e não três dias, três meses, três anos antes ou depois –, jamais saberemos ao certo. As condições estavam dadas: crescimento agudo do desastre econômico, não só para os realmente acometidos pela pobreza mas também para um segmento cada vez mais vasto dos trabalhadores pobres; incríveis exageros (exploração, ganância) do 1% mais rico da população americana (“Wall Street”); o exemplo de iradas rebeliões ao redor do mundo (a “Primavera Árabe”, os indignados espanhóis, os estudantes chilenos, os sindicatos de Wisconsin e mais uma longa lista). Não importa tanto qual fagulha acendeu a fogueira. Ela foi acesa.

Na primeira etapa – os dias iniciais –, o movimento resumia-se a um punhado de pessoas audaciosas, e na maioria jovens, procurando se manifestar. A imprensa ignorou-as completamente. Até que alguns chefes de polícia imbecis acharam que um pouco de brutalidade acabaria com as manifestações. Acabaram capturados por filmagens e as filmagens infestaram o YouTube.

O que nos leva à segunda etapa – a publicidade. A imprensa não pôde mais ignorar totalmente as manifestações. Então, tentou ser condescendente. O que esses tolos e ignorantes jovens (e uma e outra mulher mais velha) sabiam de economia? Será que tinham algum programa positivo? Eram “disciplinados”? Fomos informados de que logo as manifestações iriam minguar. O que não era esperado pela imprensa e pelos poderes correntes (parece que eles nunca aprendem) é que o tema do protesto ressoaria de maneira ampla e rapidamente se popularizaria. De cidade em cidade, “ocupações” similares foram iniciadas. Cinquentões desempregados começaram a aderir. Celebridades fizeram o mesmo. O mesmo para sindicatos, inclusive ninguém menos que o presidente da AFL-CIO (Federação Americana do Trabalho e Congresso de Organizações Industriais). A imprensa de fora dos Estados Unidos começava a cobrir os eventos. Questionados sobre o que queriam, os manifestantes respondiam: “justiça”. Esta começava a parecer uma resposta significativa para mais e mais pessoas.

Vem então a terceira etapa – a legitimidade. Acadêmicos de certa reputação passaram a sugerir que o ataque a “Wall Street” possuía alguma justificação. Repentinamente, a principal voz da respeitabilidade centrista, o New York Times, rodou em 8 de outubro um editorial dizendo que os protestantes tinham realmente “uma mensagem clara e preceitos políticos específicos”, e que o movimento era “mais que uma revolta de juventude.” O Times prosseguia: “Desigualdade extrema é a marca de uma economia disfuncional, dominada por um setor financeiro guiado em grande parte por especulação, trapaça e amparo governamental, tanto quanto por investimentos produtivos.” Linguagem pesada para o Times. Em seguida, o comitê de campanha democrata no Congresso passou a circular uma petição solicitando aos adeptos do partido que declarassem: “Estou com os protestos do Occupy Wall Street”.

O movimento tornara-se respeitável. E com a respeitabilidade veio o perigo – quarta etapa. Um grande movimento de protesto, ao se popularizar, costuma enfrentar duas grandes ameaças. Uma é a organização de significativa contramanifestação de direita nas ruas. Com efeito, Eric Cantor, o linha-dura (e muito astuto) líder republicano no Congresso, já foi convocado. Tais contramanifestações podem ser bastante ferozes. O Occupy Wall Street precisa estar preparado para isso e cogitar a maneira como pretende dominar ou neutralizar a eventual contra-ofensiva.

Mas a segunda e maior ameaça vem do sucesso genuíno do movimento. Conforme ganha mais apoio, ele amplia a diversidade de opiniões entre os manifestantes ativos. O problema aqui, como sempre, é como evitar ao mesmo tempo Cila e Caribdis1. Impedir que Occupy Wall Street torne-se um culto para poucos, que seria levado à derrota por ter bases muito limitadas; ou que, no esforço para atrair mais gente, o movimento perca coerência. Não há fórmula simples para manter-se afastado de ambos os extremos. É difícil.

Quanto ao futuro, pode ser que o movimento tenha força em momentos específicos. De duas coisas ele pode ser capaz. Forçar uma revisão rápida das medidas reais do governo para minimizar a dor aguda que pessoas estão obviamente sentindo. E transformar, a longo prazo, a visão de largos segmentos da população norte-americana sobre as realidades da crise estrutural do capitalismo e as grandes transformações geopolíticas que estão ocorrendo, por vivermos hoje em um mundo multipolar.

Mesmo que o Occupy Wall Street venha a se esgotar por exaustão ou repressão, ele já terá sido bem-sucedido e deixará um legado duradouro, assim como ocorreu com as revoltas de 1968. Os Estados Unidos terão mudado, e em sentido positivo. Como diz o ditado, “Roma não foi feita em um dia”. Construir uma ordem mundial nova e melhor; e um país novo e melhor, são tarefas que requerem esforço contínuo de várias gerações. Mas um outro mundo é de fato possível (embora não inevitável). E nós podemos fazer a diferença. Occupy Wall Street está fazendo a diferença – uma grande diferença.



1. Referência à mitologia grega. Cila e Caribdis são monstros poderosos e vorazes, que habitam rochedos opostos, às margens de um estreito. A distância entre eles é inferior ao alcance de uma seta. Por isso, os navegantes precisam de grande destreza para não se aproximar nem de um, nem de outro lado. Referência, na vida social, às situações em que duas posições extremas, e opostos, são igualmente desastrosas.