29/04/2010

Bangsters

Tem saltado à palestra nos últimos dias a imputaçom do vampiro dos mil tentáculos, Goldman Sachs. A Securities and Exchange Commision (SEC) vem de apresentar umha demanda civil contra Goldman Sachs por mor da comercializaçom de valores respaldados por hipotecas-lixo responsáveis em grande medida da crise financeira de 2008. A Goldman Sachs é o banco de inversons mais importantes de Wall Street e, daquela, do mundo.

Resulta surpreendente que seja agora quando se encause ao vampiro fagocitador, cuja filosofia vem sendo ao longo da história o comportamento fraudulento em massa para a acumulaçom de lucro, sem importar para nada a economia real. A Goldman Sachs fundou-se fai mais dum século e desde sempre moveu-se como peixe na auga no que se tem denominado como porta giratórica, quer dizer, a capacidade de interacçom desde o grande capital com a instáncia política, supeditando-a em última instáncia aos seus intereses e seqüestrando as instituiçons da cidadania e os seus representantes. Anulando de facto a democracia representativa, esvaleirando-a completamente de conteúdo. O Banco da Reserva Federal de Nova Iorque ou o Teseouro dos EUA som algumhas das agências de colocaçom para agentes da Goldman Sachs, independentemente da cor do governo, ora republicano, ora democrata.

Os mais altos directivos da companhia, ao igual que Ernst & Young, a auditora da Lehman, permitírom umha contabilidade enganosa para festim da Goldman Sachs e se agora se prova será punido com penas de cárcere. O chamativo é como após o célebre escándalo da Enron é possível que caíram nesta teia de aranha, ou bem é a única maneira de operar para para reter aos seus clientes perante a competência, ou bem os mecanismos para cumprir a lei som tam laxos que se criam intocáveis. Talvez as duas hipóteses que lança Randall Wray sejam correctas.

Para Mike Whitney a desrugalizaçom está por trás do fraude, em consonáncia com o informa do jurista Willian Black perante o Comité de Finanças do Congresso dos EUA. No devandito artigo assinala-se que a crise nom foi por acaso, mas o resultado dum fraude perpetrado por entidades financeiras como Lehman Brothers, com Goldman Sachs de por meio claro:

"Lehman foi o principal subministrador mundial de empréstimos mentirosos. Durante a maior parte desta década, o estudo dos empréstimos mentirosos revela umha incidência do freude de 90%".

A tragectória destes bangsters, como sustentavam as faixas dos manifestantes da sociedade civil recentemente, é unívoca, de modo que desde a Guerra Civil dos EUA nom houvo crise em que esta trincheira da especulaçom nom estivera de por meio. A este respeito, foi John Kenneth Galbraith quem em The Great Crash analisou o papel da Goldman na Grande Depresom iniciada oficiosamente naquela quinta-feira preta de 1929.

Em 1929 as companhias como a Goldman actuavam de intermediárias no boom bursatil sem emitir acçons. Este cómodo papel permitia-lhe junguir os intereses das distintas companhias conformando fundos fiduciários que, por sua vez, podiam aceder a valiosas acçons doutras companhias para logo vender as suas participaçons nesses fundos a incautos. Os fundos fiduciários de inversom colectiva supunham para a Goldman umha inversom muito pequena e empregando o alavancamento por meio de quartos de terceiros, quer dizer, dos incautos que adquiriam esses activos tóxicos. Logicamente, estes mecanismos do capital financeiro nom guardavam relaçom algumha com as atividades produtivas ou com os ingressos reais das transiçons económicas da estrutura económica real do capital-industrial e do capital-mercantil.

Precisamente, a disfunçom entre umha economia real que alcançara o seu zénit e estava em declínio e o artificioso boom bursatil do capital financeiro produzírom um colapso ao dar-se umha deflagraçom sem precedentes da dívida, quando todos os actores tentárom desfazer-se simultaneamente dos activos tóxicos, com a conseguinte queda nos preços das acçons. Para José A. Tapia Granados é totalmente acertada a análise que figera Wesley Clair Mitchell dos altibaixos da economia do dinheiro (the money economy) no seu livro Bussines cycles.

"Para Mitchel as causas determinantes da recesom encontram-se nos processos próprios da expansom prévia, enquanto que as causas determinantes do retorno à expansom venhem dadas por processos próprios da recesom que a precedeu. Face aos enomistas que aludindo a fames da Idade Média ou a hiperinflaçom do Império Romano diziam que sempre houvera crises económicas na história, Mitchell afirmava que os ciclos comerciais, as recorrências expansom-recesom som um fenómeno específico da moderna economia de mercado, em que a produçom se leva a cabo mediante umha série de empresas cada umha das quais actua e se organiza para obter ganhos monetários. Para Mitchell é precisamente esse ganho monetarial empresarial a variável determinante do estado de expansom ou contracçom do sistema económico, que el denominava tamém profit economy, ou seja, economia do lucro, ou economia do ganho.
(...) Quanto os ganhos estám em expansom, a inversom tanto em ordenados como em matérias primas e instalaçom cresce, aumenta a demanda de trabalho e os ordenados tendem a crescer. A expansom retroalimenta-se, dando tamém lugar a especulaçom finaceira, até que por umha série de processos imbricados o crescimento dos ganhos empresariais começa a floxear. Isso fai que invirta menos, que haja quedas de algumhas empresas e por vezes de bancos e que, de sócato, os ganhos empresariais em conjunto começem a descer, as quedas e as bancarrotas tornam-se frequêntes, o desemprego inça e desamalhoa-se a crise. Durante a crise os processos que reduzem a rendabilidade e a actividade económica em todos os sectores e geram quedas e aumento do desemprego retroalimentam-se por um tempo, mas finalmente dam passo a processos a contrário que fam que os ganhos empresariais tornem aumentar, com o que se criam boas espectativas para a inversom, de forma que dá começo o seguinte período expansivo
".

Entom os picos de ganhos, em que a Goldman é bom exponente na esfera do capital-financeiro, correspondem-se com a porta de cada nova crise. É mais, a primacia do capital financeiro desde o triunfo do paradigma ultraliberal, a destruiçom criativa da economia real, fai que o sistema mundo entre em queda e que as crises se volvam cada vez mais frequêntes e dumha intensidade maior. Nada que nom poda ler-se e aventurar-se nas análises ecónomicas do próprio Marx.

A credibilidade da Goldman estava garantida pola secretário do Tesouro Geither que permitiu que a Goldman actuara como banco para assegurar-se de que tivera entrada nos fundos públicos a custos irrisórios e, já que logo, outorgava-se-lhe deste jeito umha maior capacidade para obter benefícios e, por ende, respetabilidade. O papel de intermediário histórico na Goldman resultava inane para acumular lucro na subida da bulsa durante o boom da década de noventa e foi entom quando decidírom passar ao mercado bursatil tirando acçons. Deste modo a Goldman ganhava comissons tanto da parte ganhadora como da perdedora e, por sua vez, fazia-se com os benefícios ao aliar-se sempre com a parte ganhadora e gestionar directament esses benefícios.

As conseqüências imediatas fôrom que 80% dos benefícios da Goldman procedem de transacçons, intermediaçons e atividades de inversom, quando anteriormente só representava 20% do montante total. Todo isto viu-se ajudado pola nom desregularizaçom do mercado, ou seja, o contrário da prédica ultraliberal, já que a parte de contar com informaçom privilegiada sobre os mercados financeiros contava com com empréstimos do Banco da Reserva Federal a tipos de juros próximo a 0%. Em 2009 pagárom 5.000 milhons de dólares em interesses por empréstimos solicitados face os 21.000 do exercício anterior. A isto suma-se que o sector público injectava activos por outras vias: os 12.900 milhons de dólares injectados polo Fundo de Garantias através do resgate bancário de AIG, do que Goldman sacou talhada a vez que intoxicava novamente a AIG, os 2.000 das seus novos escritórios financiados com 1675 milhons em bonos estatais (Liberty Bonds) livres de imposto (o que supom poupar 175 milhons em juros) e os subsídios por emprego e energia que ascendem a 66 milhons.

Os problemas para os bangsters iniciárom-se quando nom pudérom desfazer-se de activos-lixo altamente tóxicos denantes de que o mercado se desplomara, antes da queda imobiliária ponto comum entre os EUA e o Estado espanhol e que arruinava aquela prediçom de Bush I de que todos os americanos seriam proprietários, ficçom com a qual se tentou lá como aqui eliminar a conciência de classe. Propriedade fitícia através de hipotecas insufríveis que se apropriavam do ordenado futuro do trabalhador numha mais valia da mais valia retranqueando um chisco.

A Goldman Sachs está tamém detrás da ocultaçom da dívida grega em conivência com as agências de qualificaçom da dívida. Goldman tapava as misérias da dívida grega, da miserável classe dirigente grega para sermos mais exactos, ao tempo que contratava um seguro contra essa dívida para cobrir-se o lombo, tal e como tinha feito com estados americanos dispondo de informaçom de primeira mao sobre o precário estado das finanças desses estados. O mais grave é que a Goldman que agora salta à palestra pública é apenas a ponta do icebergue, pois o modus operandi é comum a todos estes polvos da especulaçom, rémoras e same sugas de povos e trabalhadores de todo o globo. Já apontam a Portugal, Itália, Irlanda e o Reino da Espanha.

Goldman vendera a Grécia swaps nos que pagava ao governo heleno por futuras fontes de ingresos por conceitos tais como taxas de aterrage em aeroportos. Assi, o governo grego podia ocultar a UE, a cidadania e ao mercado financeiro o seu déficit orçamentar, semelhante ao do Reino Unido, por certo. A queda de Grécia e a queda de AIG seguem um esquema comum detrás do qual está o vampiro dos mil tentáculos, como analisava num artigo Dean Baker.

The show must go on. A galinha dos ovos de ouro da especulaçom segue avante na mesma linha ultraliberal que tam bem funciona para alguns, como indicava numha entrevista Tariq Ali "os ricaços fam-se mais ricos e os suburvíos vam engrossando-se". A concentraçom do capital, a que ajuda qualquer crise como já indicara Lenine no Imperialismo, concentra-se a passos agigantados em cada vez menos maos, de tal sorte que em duas ou três décadas será precisso revisar a fundo, se nom o já, até onde som operativas as etiquetas Norte-Sul sem introduzir o vector vertical dentro de cada um desses espaços, quer dizer, o aumento dos excluídos, a queda do velfarismo e o medre das desigualdades com o adelgaçamento do estado, a reduçom do funcionariado e a virtual desapariçom das classes meias.

Alejandro Nadal fala de três momentos fulcrais. Em primeiro lugar, o Tratado de Detroit, o acordo laboral mais importante da pós-guerra, assinado entre a United Auto Workers e Ford, GM e Chrysler em 1950. O tratado consistia no constringimento do direito a greve dos trabalhadores a cámbio de ajustes salariais em consonáncia com a inflaçom, ventages em matéria de saúde, retiro, despidementos e férias. O Tratado de Detroit serviu como modelo para outras industrías durante duas décadas nos EUA, até que chegou a década ominosa dos setenta.

O segundo momento coincide com o estacamento da taxa de ganhos das industrias medulares da economia estadunidense no final da décade ominosa. A nova ofensiva da globalizaçom ultraliberal descendente centrou-se nas classes trabalhadoras com o objectivo de mudar o padrom de distribuiçom dos ingresos. O pacto social da pós-guerra, agora questionado na Europa com sanha, desmantelou-se gradualmente rematando com o crescimento sustentado dos igresos.

O último acto da tragédia coincide com a supremacia do capital financeiro e a desregularizaçom selvage do espaço financeiro. O ultraliberalismo financeiro foi o que permitiu e permite aos EUA manter a hegemonia toda vez que o poderio da economia real japonesa e alemá o punha em teia de juízo. A tragédia grega de hoje nom é mais do que um sucesso desta aposta dos americanos e o cabalo de Troia através do FMI e do BM para a destruiçom do euro.

A resposta necessária é clara, requere-se umha esquerda anticapitalista que rache com o consenco ultraliberal de democratas e republicanos, de psoés e upeidés e pepés, ou seja, o ultraliberalismo extremo dos anarco-capitalistas ou o ultraliberalismo com pele de ovelha da pseudo-socialdemocracia. Hai que apagar o atual pentagrama e tecer novas sinfonias, a contrário a música do Luís Cília fará-se-nos eterna: "É sempre a mesma melodia/ mudam as moscas/ só a merda nom varia". Die Linke, o Bloco de Esquerdas ou Esquerda Capitalista marcam pautas para essa nova esquerda apologética da intoleráncia perante o consenso ultraliberal. Na Galiza, o Encontro Irmandinho, tem que assumir a tarefa de construir umha esquerda libertária e republicana em coordenadas nacionais. Fica pouco tempo, e a classe trabalhadora se nom somos capazes de assumir este repto nunca no-lo perdoará.




Um comentário:

AFP disse...

"Para o depoimento nom todo tem que decrescer, tem que decrescer o uso e as capacidades de uso de matéria e energia, assi como as desigualdades sociais. Planeja-se umha mudança radical de estruturas, onde a atençom pola vida humana e a natureza substituem o objectivo do crescimento económico.

(...)

Nom se trata dumha crise de liquidez, pola contra mais bem é todo o contrário, umha crise de excesso de crescimento dos ativos financeiros a respeito da riqueça real. É um problema de limites, de excesso de liquidez e de finanças. Os activos financeiros crescérom por cima das capadides reais do planeta".

http://www.decrecimiento.info/2010/04/giorgio-mosangini-la-crisis-es-un.html